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O sumário de urina é o exame indicado para avaliar alterações no sistema urinário, tanto no trato urinário alto quanto trato urinário baixo. Logo, é um excelente exame para determinar anormalidades em órgãos como bexiga e rins, mas, além disso, pode determinar alterações importantes em órgãos como fígado, pâncreas e outros.
Mesmo sendo um exame com muitas indicações, estas devem ocorrer de maneira direcionada e não indiscriminada, objetivando esclarecer dúvidas diagnósticas e confirmação etiológica, se possível.
Este exame tem baixo custo e resultados em curto período de tempo, o que emerge como uma vantagem de solicitação, além de não ter riscos, como efeitos adversos ao paciente, desde que a amostra seja coletada de forma correta pelo paciente ou profissional de saúde.
A urina é composta de água e elementos sólidos, estes microscópicos e insolúveis em suspensão, como exemplos: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, células epiteliais, cristais e bactérias ou parasitas. O exame pode ser conhecido por diversos nomes, como abordado abaixo:
Nomenclaturas para o Sumário de Urina
- Urina tipo 1
- Elementos Anormais e Sedimentoscopia (EAS)
- Sumário de urina
- Urina Simples
- Exame Qualitativo de Urina (EQU)
- Exame Comum de Urina (ECU)
Formação da Urina
O entendimento sobre a formação da urina perpassa por conhecimentos anatômicos e fisiológicos dos rins e vias urinárias. Vejamos, diariamente, os rins filtram em média de 170 a 180 litros de sangue e produzem de 1,5 a 2 litros de urina, dependendo para isso de condições orgânicas favoráveis.
Em caso de anormalidades, patologias renais ou em outros órgãos, mas com ação interligada, estes valores podem sofrer alterações mínimas a drásticas e ter repercussões hemodinâmicas variadas. Sendo assim, quantificar a quantidade de urina excretada emerge como uma boa avaliação prognóstica em muitos casos como, por exemplo, suspeita de desidratação.
Anatomia e fisiologia renal
Os rins são estruturas bilaterais com peso aproximado de 150 gramas no adulto, em forma de “grão de feijão”. Localizam-se no retroperitônio, sobre a parede posterior do abdome e tem contato íntimo com estruturas peritoneais como glândulas suprarrenais, diafragma e ureteres. Estão ao nível das vértebras T XII a LIII.
Imagem: Vista posterior dos rins. Fonte: Netter, Atlas de Anatomia Humana.
Os rins possuem uma estrutura denominada hilo renal, local de entrada e saída dos vasos, nervos e ureteres, logo, é por onde entra o sangue a ser filtrado e saem os resíduos para excreção. Tem revestimento pela fáscia renal, cápsula adiposa e cápsula fibrosa e na sua composição é subdividido em duas porções: o córtex renal e a medula renal.
Imagem: O rim seccionado em vários planos. Fonte: Netter, Atlas de Anatomia Humana.
O córtex representa a porção externa, com coloração avermelhada e estrutura lisa, nele está a unidade funcional dos rins: os néfrons, local onde há produção da urina. O néfron é formado pelo corpúsculo renal e um sistema de túbulos composto por: túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo coletor.
A medula renal esta situada na porção mais interna dos rins, com coloração marrom-avermelhada e é formada por pirâmides renais. Nas pirâmides renais o sistema de ductos coleta a urina produzida nos néfrons e a direciona para excreção pelos ureteres.
Imagem: Representação do néfron com as seguintes porções: cápsula glomerular, glomérulo renal, túbulo contorcido proximal, túbulo contorcido distal, alça de Henle e túbulo coletor. Fonte: https://bit.ly/3eCHIA7.
Os rins tem diversas funções homeostáticas como a eliminação dos resíduos metabólicos, regulação do balanço hidroeletrolítico, regulação do equilíbrio ácido básico e produção hormonal.
A formação da urina perpassa por inúmeras etapas, começando pela entrada do sangue através da arteríola aferente aos rins, artéria única, ramo da artéria aorta. O sangue segue o trajeto do capilar glomerular ao túbulo proximal e é iniciado o processo de absorção e secreção de alguns elementos, dentre eles aminoácidos, ácido úrico, ureia e creatinina. Ao longo da alça de Henle e túbulo distal, outros processos de absorção são realizados até a eliminação da urina. Veja com mais detalhes adiante as etapas de filtração, reabsorção e secreção:
Filtração
É a etapa inicial de formação da urina que ocorre ainda no corpúsculo renal pela alta pressão sanguínea que chega a essa região. O que ocorre é basicamente o extravasamento de substâncias para o interior da cápsula renal e o filtrado segue em direção ao túbulo contorcido proximal.
Reabsorção
Em torno de 65% do sódio e água presentes no fluido são reabsorvidos no túbulo proximal. Há também absorção de glicose e aminoácidos. E como ocorre a regulação deste processo? Através da secreção do hormônio antidiurético (ADH) pela neuro-hipófise.
A ação desse hormônio tem efeito no aumento de permeabilidade dos túbulos distais e túbulos coletores, realizando maior reabsorção de água e, quando o mesmo é inibido, ocorre maior secreção. Um exemplo bastante conhecido dessa inibição é pela ação do álcool no organismo.
Quem nunca passou pela situação de estar em uma festa, se divertindo com amigos e bebendo bastante, quando percebe que está indo diversas vezes ao banheiro? Então, isso ocorre tanto pelo maior consumo de líquido quanto pela inibição do ADH.
Secreção
O processo de reabsorção é muito importante para evitar perdas excessivas de água e íons, mas muitas substâncias precisam ser excretadas para garantir a homeostase corporal, evitar toxicidade e repercussões adversas ao organismo.
É nesse processo de secreção, que ocorre principalmente no túbulo contorcido distal, que essas substâncias são eliminadas. Como exemplo, estão o ácido úrico e amônia que são componentes importantes na formação final da urina.
Imagem: Processo de formação da urina. Fonte: https://bit.ly/2Zda4u1.
Após finalizado todo processo de filtração, reabsorção e secreção, a urina, já com sua composição final, irá em direção aos ureteres. Os ureteres são estruturas que saem dos rins, pelo hilo renal, sendo ductos musculares em torno de 25cm a 30cm de comprimento, com lúmens estreitos que conduzem a urina para a bexiga.
Cuidados com a coleta no Sumário de Urina
A coleta da urina pode ser realizada tanto a domicílio, pelo próprio paciente, quanto por profissionais de saúde. Veja abaixo os cuidados essenciais para garantir a qualidade da amostra e evitar resultados errôneos.
A indicação formal é coletar a primeira urina do dia, lembrando sempre de descartar o primeiro jato e coletar o jato médio. É essencial a higienização correta dos genitais, tanto masculino quanto feminino, para evitar contaminação do jato, com lavagem simples. O ideal é levar a amostra coletada para o laboratório o mais rápido possível para evitar, por exemplo, muita movimentação e contaminação da amostra.
Outra opção de coleta, além do jato médio, é a coleta por sonda vesical. Neste caso, ocorre principalmente em pacientes hospitalizados já com sonda ou doenças crônicas que dificultem a coleta do jato médio. Outra opção, mas em condições extremas, é a punção suprapúbica.