Em tempos de pandemia de covid-19 é preciso tomar cuidado com problemas na gestação como o edema agudo pulmonar para diagnosticar corretamente.
Desde o início do ano o mundo passa por um dos maiores desafios da humanidade: uma pandemia. Muitas informações se atualizam rapidamente, o que dificulta muito a abordagem clínica de casos que seriam “simples” – quem não saberia fazer um diagnóstico de gripe antes dessa pandemia de COVID-19?
Esse caso clínico descreve uma paciente gestante com dispneia e dor pleurítica associados a pré-eclâmpsia. Vamos ao caso!
História clínica
Paciente de 27 anos, gestante G2Pn1A0 34s + 3d de gestação, buscou atendimento médico no dia 13/04/2020 queixando dispneia há 2 horas, tosse não produtiva e sudorese. Esses sintomas iniciaram-se há 2 horas, e a paciente também apresentava calafrios.
O quadro clínico da paciente abria margem para vários diagnósticos possíveis, principalmente de acometimento pulmonar (pneumonia, derrame pleural, edema agudo de pulmão, etc.). Entretanto, sua história clínica aumentou em muito a hipótese do edema agudo de pulmão: era uma paciente diagnosticada com pré-eclâmpsia durante pré-natal e que apresentou em sua gestação passada iminência de eclâmpsia com interrupção da gestação por via alta.
O grande fator de dúvida: COVID-19
Teoricamente tínhamos o quadro clínico todo montado para um edema agudo de pulmão por complicação a uma pré-eclâmpsia na gestante. Essa paciente receberia terapia anti-hipertensiva e seria discutida a interrupção da gestação – indução ou via alta.
Entretanto, em tempos de coronavírus, todo caso clínico com sintomas respiratórios merece uma reavaliação. Desde março o Ministério da Saúde considera que todo o território nacional é de transmissão comunitária (PORTARIA Nº 454, DE 20 DE MARÇO DE 2020) e, portanto, todos nós somos potenciais transmissores do vírus.
O Ministério da Saúde também definiu os casos que devem ser suspeitos de infecção pelo novo coronavírus: é preciso que o paciente apresente febre associado a algum sintoma respiratório ou contato com algum paciente com diagnóstico de COVID-19.
Resolvendo a dúvida
Durante o recebimento dessa paciente no serviço de saúde houve muita especulação. Toda a equipe de saúde manifestou preocupação e o atendimento foi regido milimetricamente com base nas medidas de proteção individual. O fato de estarmos vivendo uma pandemia mundial de saúde estimula profundamente os medos individuais, o que afeta (sim) a forma como conduzimos casos, teoricamente, fáceis.
Continuando: a paciente estava afebril (36.3) e negava veementemente febre, negava também contato com casos diagnosticados ou mesmo suspeitos de COVD-19. Foi descartada a possibilidade dessa doença nela: tanto pelos critérios indicados pelo Ministério da Saúde quanto pelo bom senso clínico – que apontava uma hipótese mais clara.
A propedêutica solicitada confirmou pré-eclâmpsia (proteinúria de 24h de 527 g/ml) e descartou outras hipóteses clínicas. A paciente foi caracterizada como tendo um fator de gravidade para pré-eclâmpsia previamente diagnosticada, e teve seu parto interrompido com 2 dias de internação. Seu bebê passa bem s2.