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Resposta imunológica associada a piores desfechos na COVID-19

Resposta imunológica associada a piores desfechos na COVID-19

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Muitos estudos têm abordado a patogênese da COVID-19. Porém, a resposta imunológica apresentada pelos infectados, analisada de forma longitudinal, ainda permanecia tema a ser estudado. A Nature publicou recentemente pesquisa, analisando justamente essa relação. Dentre os pesquisadores, temos dois brasileiros incluídos: Tiago Castro, da Universidade Rockefeller, e Carolina Lucas, da Universidade de Yale.

Vamos então abordar um pouco dos achados do estudo neste post.

Metodologia do estudo

O estudo foi do tipo coorte, onde 113 pacientes com COVID-19, admitidos no Yale New Haven Hospital, foram seguidos. Os dados analisados dos pacientes foram:

  • Carga viral;
  • Níveis plasmáticos de citocinas e quimiocinas;
  • Perfil de leucócitos.

Em paralelo, 108 trabalhadores voluntários com teste de PCR negativo para SARS-CoV-2 foram utilizados para comparação.

Os pacientes foram classificados em moderados e graves de acordo com a necessidade de suplementação de O2:

Principais resultados do estudo

Os pesquisadores analisaram, de forma seriada, a resposta imune apresentada pelos 113 participantes. A análise revelou aumento no número de células imunes inatas e decréscimo no número de células T.

Houve clara associação entre elevação precoce de citocinas e piores desfechos. Enquanto nos pacientes com doença moderada, viu-se precoce declínio no perfil de resposta imunológica tipo 1 (viral) e tipo 3 (antifúngica).

Os pacientes com doença grave mantiveram níveis elevados destes tipos de resposta imunológica durante todo curso da doença. Além disso, doença grave foi acompanhada também por aumento em múltiplos efetores da resposta tipo 2 (antihelmíntica).

A análise das amostras identificou 4 tipos de “assinatura” de resposta imune:

  • A: fatores de crescimento;
  • B: Citocinas tipo 2/3;
  • C: Mix de citocinas tipo 1/2/3;
  • D: Quimiocinas que se correlacionaram com 3 tipos de trajetórias dos pacientes.

O perfil imune, ou a “assinatura” daqueles pacientes que se recuperaram consistiu em aumento nos fatores de crescimento de reparo tecidual (A). Já aqueles que tiveram trajetória pior da doença obtiveram aumento nos 4 tipos de perfis.

Discussão

Os resultados do estudo delinearam 3 trajetórias seguidas pelos pacientes.

Na trajetória 1, os pacientes apresentaram doença moderada, com recuperação. Estes foram caracterizados por baixo perfil de expressão de citocinas inflamatórias, e acréscimo na expressão de genes relacionados à recuperação tecidual.

Nas trajetórias 2 e 3, os pacientes desenvolveram doença grave, e foram caracterizados por elevação marcante de citocinas pró-inflamatórias, sendo este aumento mais acentuado na trajetória 3, desenvolvendo quadro mais grave e levando muitos ao óbito.

Apesar da carga viral ser semelhante em ambos os grupos no início dos sintomas, a análise linear mostrou menor decréscimo na carga viral daqueles pacientes admitidos na UTI.

A carga viral apresentou correlação com níveis de IFN-α, IFN-γ e TNF-α, sugerindo que a carga viral pode estar desencadeando produção de citocinas, e que interferons não controlam o vírus de forma efetiva.

Os resultados apresentados apontam que a fase tardia da doença pode estar sendo conduzida pela resposta imune inadequada ao SARS-CoV-2, colocando em destaque a necessidade de bloquear as citocinas que estiveram associadas aos piores desfechos.

Em conclusão, a pesquisa mostrou que intervenção imunológica precoce, tendo como alvo os marcadores inflamatórios preditivos de piores desfechos são preferidos para bloquear o aumento das citocinas. Da mesma forma, estas terapias precisam ainda visar facilitar o reparo tecidual e promover tolerância à doença.

Confira o vídeo:

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