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As vacinas são produtos capazes de mimetizar a infecção natural por um patógeno e estimular o desenvolvimento de uma resposta imune que garanta proteção contra determinados agentes infecciosos.
Através da simulação de uma infecção, as vacinas induzem a produção de uma resposta imune antígeno-específica (humoral e celular) muito semelhante àquela produzida pela infecção natural, mas utilizando antígenos vacinais pouco ou nada virulentos, protegendo, portanto, sem causar o adoecimento.
É uma estratégia de imunização ativa, criada em 1798, após a experimentação do médico e cientista Edward Jenner.
A partir da observação de trabalhadores rurais que já tinham se infectado com o vírus da varíola bovina e pareciam ter imunidade para a varíola humana, Jenner inoculou a secreção drenada da ferida de uma ordenhadora de vacas em um menino de oito anos.
O menino contraiu a doença de uma forma branda e ficou curado. Após dois meses, Jenner inoculou neste mesmo menino o líquido extraído da pústula de varíola humana, e observou que o menino não desenvolveu a doença, o que significava imunidade à infecção.
Essa estratégia de imunização foi duramente ridicularizada pela comunidade científica na época, mas os efeitos protetores da vacinação foram evidentes e suficientes para sustentar a adoção da estratégia como medida de controle da epidemia de varíola em diversos países.
Em 1799 foi criado o primeiro centro de vacinas em Londres e, em 1800, a Marinha Britânica passou a adotar a vacinação.
Tipos de vacina
O avanço dos experimentos e das tecnologias na criação de vacinas possibilitou o desenvolvimento de diferentes tipos de vacina. A tecnologia empregada na vacina tem influência direta sobre a resposta imune desencadeada, a eficácia na proteção, e também sobre as contraindicações e possíveis efeitos adversos.
Vacinas atenuadas (ou vivas)
São constituídas de microrganismos obtidos pela seleção de cepas naturais (selvagens) que foram atenuados por passagens em meios de cultura especiais. Provocam infecção similar à natural de maneira subclínica e, em geral, tem grande capacidade protetora, garantindo imunidade a longo prazo, com a necessidade de menos doses do que as vacinas inativadas.
Quando administradas por via mucosa, induzem imunidade secretora na porta de entrada natural da infecção. A desvantagem é o risco teórico de provocarem eventos adversos em virtude de virulência residual em pacientes com imunodepressão grave. Nesses casos, é preciso avaliar os riscos e os benefícios de recomendar a vacina.
A resposta imunológica gerada pela aplicação de uma vacina contendo vírus atenuado gera barreira imunológica inespecífica, que impede a invasão celular por um segundo vírus vacinal.
Logo, vacinas atenuadas injetáveis diferentes, quando não aplicadas no mesmo dia, devem ser administradas em um intervalo mínimo de 28 dias entre elas. Fato semelhante acontece com pessoas que precisaram ser imunizadas com soros, imunoglobulinas, plasma ou outros meios de imunização passiva.
Os anticorpos específicos contra vírus selvagens podem inativar o vírus vacinal e interferir na resposta imune, devendo ser respeitado um intervalo de três a 11 meses para receber vacinas atenuadas.
Vacinas não vivas ou inativadas
São constituídas por microrganismos não vivos ou suas frações, que não se replicam nem provocam doença subclínica. Apesar de serem menos virulentas, algumas das vacinas inativadas são altamente imunogênicas e conferem proteção de longa duração. Os antígenos desse tipo de vacina são obtidos de diferentes modos:
- Microrganismos inteiros inativados por meios físicos ou químicos. Exemplos: vacina celular contra a coqueluche e vacina inativada contra poliomielite (VIP);
- Toxinas inativadas de microrganismos. Exemplos: vacinas adsorvidas difteria e tétano (dT);
- Vacinas de fragmentos de microrganismos. Exemplo: alguns tipos de vacinas influenza.
- Vacinas obtidas por meio da identificação dos componentes dos microrganismos, responsáveis tanto pela agressão infecciosa quanto pela proteção. Os componentes potencialmente tóxicos são inativados, como a vacina adsorvida pertússis acelular.
- Vacinas obtidas por engenharia genética. Exemplo: vacina recombinante hepatite B e papilomavírus.
- Vacinas polissacarídicas não conjugadas, em que os polissacarídeos são extraídos da cápsula de bactérias invasivas como o pneumococo e o meningococo. Não estimulam imunidade celular e, por isso, não protegem crianças com menos de dois anos, sendo ainda a sua proteção de curta duração. A imunidade não aumenta com a repetição das doses. É o caso das vacinas polissacarídicas não conjugadas contra o pneumococo e os meningococos A, C, W, Y.
- Vacinas conjugadas, em que os componentes polissacarídicos são conjugados a proteínas, criando-se um complexo antigênico capaz de provocar respostas imunológicas timo-dependentes. Exemplo: vacinas conjugadas Haemophilus influenzae tipo b, vacina conjugada pneumococo e vacina conjugada meningococos de tipos A, C, W e Y.
- Vacinas obtidas por vacinologia reversa, como a vacina meningocócica B.
Combinação de vacinas
Com o surgimento de novas vacinas, é cada vez maior o número de imunizantes utilizados para controle e prevenção das doenças infecciosas. Neste sentido, é necessário aplicar diversas vacinas simultaneamente em locais anatômicos diferentes.
As vacinas podem ter uma apresentação que combine mais de um antígeno ou mais de um sorotipo do mesmo antígeno, mas mantendo a resposta imune individual a cada antígeno e sendo tão seguras quanto a aplicação de vacinas monovalentes.
Deve-se atentar ao fato de que vacinas diferentes não podem ser misturadas na mesma seringa. Em caso de vacinação simultânea com imunizantes diferentes, é preciso que cada vacina seja aplicada em uma região anatômica, ao invés de aplicar vacinas diferentes no mesmo sítio anatômico.
É importante salientar que não há evidência científica de que o sistema imune se sobrecarregue com a administração simultânea de múltiplas vacinas, sendo segura e eficaz, portanto, a utilização tanto de vacinas combinadas quanto a administração simultânea de vacinas.
Algumas exceções são as vacinas Tríplice viral, tetra viral e febre amarela, que não podem ser administradas simultaneamente em crianças menores de dois anos. Nesse caso, deve-se respeitar um intervalo de 30 dias entre a aplicação dos imunizantes. Entretanto, deve-se avaliar o risco-benefício da aplicação, considerando o cenário epidemiológico e o risco elevado de se contaminar por ambos os vírus.
Nessa mesma linha, as vacinas tríplice viral e varicela, se não forem aplicadas no mesmo dia, devem ter um intervalo de 30 dias entre a aplicação do segundo imunizante. Em situações que não seja possível respeitar esse intervalo, aguardar no mínimo 15 dias para administrar o segundo imunizante.
As vacinas pneumocócicas conjugadas 10-valente (Pneumo 10) ou a vacina conjugada 13-valente (Pneumo 13) e a pneumocócica polissacarídica 23-valente (Pneumo 23) não devem ser aplicadas simultaneamente e devem ser utilizadas com pelo menos oito semanas de intervalo entre elas.
Eficácia das vacinas e fatores relacionados
A eficácia de uma vacina é mensurada por alguns fatores, como a imunogenicidade, a avidez dos anticorpos desenvolvidos, a persistência de anticorpos a longo prazo ou a geração de células de memória capazes de reativar de forma rápida e eficiente a resposta imune após exposição microbiana subsequente.
Além disso, são avaliados outros parâmetros relacionados à segurança, como os efeitos adversos provocados, e de conservação, como a temperatura ideal para acondicionamento, e o tempo de estabilidade após abertura do frasco-ampola.
Alguns fatores relacionados à resposta imune são:
- Natureza do antígeno: proteicos ou polissacarídeos e dose utilizada;
- Natureza da vacina: atenuada ou inativada, proteica ou polissacarídea, adjuvantes utilizados;
- Fatores individuais: determinantes genéticos da resposta imune, imunodeficiência, idade (crianças e idosos), presença de comorbidades, estresse, tratamentos imunossupressores;
- Esquema de doses: cumprir o esquema de doses, respeitando os intervalos recomendados para as doses subsequentes e doses de reforço.
Para que haja o controle de infecções imunopreveníveis, sua eliminação ou até mesmo a erradicação, é necessário garantir cobertura vacinal ampla e consequente indução de imunidade protetora em uma parcela suficiente da população que permita a diminuição de suscetíveis e a circulação do patógeno entre humanos. A manutenção desse controle, entre outros fatores, depende da permanência dessa imunidade em longo prazo.
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Referências:
- ABBAS, A.K; LICHTMAN, A.H; PILLAI, S. (org).Imunologia celular e molecular, 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
- BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. DEPARTAMENTO DE IMUNIZAÇÃO E DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais, 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/dezembro/11/manual-centros-referencia-imunobiologicos-especiais-5ed.pdf. Acesso em: 28 abr. 2021.
- BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_procedimentos_vacinacao.pdf. Acesso em: 28 abr. 2021.
- PONTE, G. Conheça a história das vacinas. Rio de Janeiro, 2020.Disponível em: https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1738-conheca-a-historia-das-vacinas. Acesso em 29 abr. 2021.