Tudo que você precisa saber sobre transtorno delirante

Transtorno Delirante
Índice

O transtorno delirante se caracteriza essencialmente pela presença de um ou mais delírios que persistem por pelo menos um mês. Portanto, são caracterizados por uma ideia monotemática e sem conteúdo bizarro, além de não ocasionar deterioração da personalidade do paciente. Assim, os delírios giram em torno de fatos possíveis de ocorrer na vida cotidiana, como traição conjugal ou estar doente.

Dessa forma, o termo delirante surgiu em 1987, após a revisão da terceira edição do Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III). Por isso, a condição era frequentemente tratada e intitulada como paranoia, termo considerado vago e inapropriado por alguns pesquisadores. Foi por muitas vezes tratada como uma forma de esquizofrenia.

Epidemiologia do transtorno delirante

A prevalência de casos foi estimada em 0,2%, com maior frequência do subtipo persecutório, sendo o tipo ciumento o mais comum em indivíduos do sexo masculino. Porém, as mulheres são mais acometidas do que os homens em uma proporção 4:3.

Assim, o transtorno delirante tende a acometer indivíduos na quarta e quinta décadas de vida com idade média de 48,8 nos homens e 44,9 anos para as mulheres, e o acometimento varia de 29 a 78 anos entre mulheres e 17 a 72 anos para homens.

Fatores de risco

Os fatores de risco associados ao transtorno delirante são:

  • Sexo feminino
  • Deficiência auditiva
  • Deficiência visual
  • Isolamento social
  • Doenças cerebrais
  • História familiar (principalmente de transtornos psicóticos)
  • Sintomas depressivos
  • TCE.

Sintomas do transtorno delirante

O transtorno delirante pode surgir no contexto de um transtorno de personalidade paranoide preexistente. Portanto, em tais pessoas, a desconfiança disseminada e a suspeita de outras pessoas e de suas motivações começam no início da idade adulta e se estendem por toda a vida.

Os sintomas iniciais podem incluir:

  • Sensação de estar sendo explorado
  • Preocupação com a lealdade ou a fidedignidade de amigos
  • Tendência a ler significados ameaçadores em observações ou eventos benignos
  • Propensão persistente a ressentimentos
  • Facilidade de responder a descortesias percebidas. 

Dessa forma, os pacientes com transtorno delirante acabam desenvolvendo sintomas ansiosos que muitas vezes culminam em depressão.

Indivíduos com transtorno delirante podem ser capazes de descrever, de forma factual, que outras pessoas veem suas crenças como irracionais; são incapazes, no entanto, de aceitar isso – pode existir “insight dos fatos”, mas não um insight verdadeiro. Muitos indivíduos desenvolvem humor irritável, que costuma ser compreendido como uma reação às suas crenças delirantes.

Tipos de transtorno delirante

Existem diferentes tipos de transtorno delirante, classificados de acordo com o conteúdo dos delírios. São eles:

  • Erotomaníaco: o tema central do delírio é o de que outra pessoa está apaixonada pelo indivíduo. Geralmente essa outra pessoa tem status social mais elevado que o paciente
  • Grandioso: existe a convicção de ter algum grande talento (embora não reconhecido), status ou ter feito uma descoberta importante
  • Ciumento: há ideia fixa de que o cônjuge ou parceiro é infiel
  • Persecutório: envolve a crença de que o próprio indivíduo está sendo vítima de conspiração, enganado, espionado, perseguido, envenenado ou drogado, difamado maliciosamente, assediado ou obstruído na busca de objetivos a longo prazo
  • Somático: esse subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais
  • Misto: esse subtipo aplica-se quando não há um tema delirante predominante
  • Não especificado: esse subtipo aplica-se quando a crença delirante dominante não pode ser determinada com clareza iu não está descrita nos tipos específicos.

Diagnóstico

De acordo com o DSM-5, os seguintes critérios legitimam o diagnóstico de transtorno delirante:

  • A presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais
  • O critério A para esquizofrenia jamais foi atendido. Nota: alucinações, quando presentes, não são proeminentes e têm relação como tema do delírio (por exemplo, a sensação de estar infestado de insetos associada a delírios de infestação)
  • Exceto pelo impacto dos(s) delírio(s) ou de seus desdobramentos, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é claramente bizarro ou esquisito
  • Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles foram breves em comparação com a duração dos períodos delirantes
  • A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica, não sendo mais bem explicada por outro transtorno mental, como transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-compulsivo.

Diagnóstico diferencial de transtorno delirante

Na esquizofrenia, o paciente apresenta alucinações – geralmente auditivas – de forma mais proeminente. Além disso, frequentemente, o esquizofrênico tem maiores prejuízos sociais – nos relacionamentos, nas atividades laborais, no autocuidado – e tem alterações em várias funções mentais, como a presença de neologismos, afrouxamento dos nexos do discurso, embotamento afetivo e estereotipias. Em contrapartida, o paciente com transtorno delirante não apresenta desintegração da personalidade e, por isso, mantém as funções mentais (excetuando o juízo de realidade) de forma intacta e tende a manter seu funcionamento próximo a normalidade.

Casos graves de transtorno depressivo maior podem cursas com delírios, falta de insight e pensamentos desorganizados. Contudo, pacientes depressivos têm tais sintomas psicóticos apenas na vigência do quadro de humor. Os delírios tendem a ter temática congruente com a alteração afetiva (por exemplo: delírios de ruína ou culpa). O mesmo raciocínio pode ser aplicado em pacientes com transtorno bipolar, nos quais a presença de sintomas psicóticos coincide com a presença de polarização do humor, além de também serem congruentes com a afetividade (por exemplo: delírio de grandeza ou místico/religioso na mania).

Assim, pacientes com delírios e história de déficits cognitivos progressivos ou agudos podem levantar a suspeita de transtorno neurocognitivo (demência) e delírium, respectivamente. Além disso, tendem a apresentar em pacientes com idade mais avançada (acima dos 60 anos) e têm história característica de prejuízo nas cognições. Em caso do delirium há também indícios de causa orgânica para o surgimento da psicose (por exemplo: sinais clínicos de infecção, distúrbio metabólico, abstinência de alguma substância de uso crônico ou intoxicação).

Tratamento

O tratamento para o Transtorno Delirante ainda é um desafio para o médico e para o paciente. Os resultados positivos descritos na literatura, bem como na prática clínica, em geral, vêm do tripé: antidepressivos, antipsicóticos e psicoterapia.

Farmacoterapia

Os antipsicóticos sempre foram uma opção medicamentosa e por muito tempo utilizados como monoterapia, porém com resultados pouco expressivos. Assim, a Tabela 1 sintetiza os antipsicóticos utilizados rotineiramente no tratamento do transtorno delirante. Com isso, na tabela 2 ilustram-se os antidepressivos que são mais costumeiramente prescritos. Portanto, deve-se realçar que a utilização dessa classe – antidepressivos – pretende amenizar sintomas secundários (ansiosos e depressivos) à repercussão da psicose na vida do sujeito.

Antipsicótico Intervalo de dose
Risperidona 0,5 – 6mg
Olanzapina 10 – 20 mg
Quetiapina 25 – 700 mg
Clozapina 25 – 500 mg
Amissul´prida 100 – 400 mg
Paliperidona 6 – 9 mg
Pimozida 1 – 12 mg
Flufenazida 12,5 – 25 mg
Haloperidol 1 – 20 mg
Clorpromazina 150 – 300 mg
Piriciazina 5mg
Tabela 01 – Antipsicóticos para o tratamento de transtorno delirante
Antidepressivo Dose média
Paroxetina 60 mg
Sertralina 50 mg
Fluoxetina 20 mg
Clomipramina 60 – 120 mg
Tabela 02 – Antidepressivos usuais para o tratamento de transtorno delirante

Tratamento não farmacológico

Assim, a psicoterapia é parte fundamental no transtorno delirante.Portanto, no momento do diagnóstico o paciente deve ser orientado sobre tal importância e que a regularidade das sessões é primordial para o êxito.

Dessa forma, a terapia mais empregada tem sido a cognitivo-comportamental, em que o terapeuta trabalha as crenças básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e outras pessoas, estimulando sempre o insight.

Veja também: 

Perguntas Frequentes:

1 – O que é Transtorno delirante?

O transtorno delirante caracteriza-se por convicções falsas firmemente mantidas (delírios) que persistem por no mínimo 1 mês, além disso sem outros sintomas da psicose.

2 – Como fazer o diagnóstico?

O diagnóstico é realizado através de critérios diagnósticos.

3 – Qual o tratamento?

Os resultados positivos descritos na literatura, bem como na prática clínica, em geral, vêm do tripé: antidepressivos, antipsicóticos e psicoterapia.

Sugestão de leitura complementar

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Pós graduação

Medicina da Dor

Capacitação em diagnóstico e tratamento de dor crônica ou aguda.