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Overdose: o que é, efeitos orgânicos, como manejar e mais

Overdose: o que é, efeitos orgânicos, como manejar e mais

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Entenda o que é a overdose, quais possíveis efeitos no organismo do indivíduo e como manejar essa complicação do abuso de substâncias. Bons estudos!

A overdose é relativamente comum no cenário da emergência brasileira, especialmente psiquiátrica. Pensando nisso, é de suma importância que o médico esteja familiarizado com a abordagem e continuidade dos cuidados ao paciente nessas circunstâncias.

O que é a overdose?

Overdose é o termo designado para caracterizar concentrações excessivas de substâncias no organismo, maiores do que as suportadas pelo corpo. Como resposta à essa hiperconcentração, o comprometimento de funções vitais costuma ser o mais predominante.

As reações tóxicas da overdose são mais observadas em depressores do SNC (opioides e sedativo-hipnóticos). Podem ser intencionais (tentativa de suicídio), acidentais ou involuntárias.

Essa é uma condição clínica muito grave, sendo uma emergência. Por isso, o indivíduo deve ser avaliado imediatamente por uma equipe médica, com o objetivo de evitar as complicações das funções de órgãos vitais.

Overdose e substâncias ilícitas: essa correlação é sempre verdadeira?

Segundo o senso comum, os eventos de overdose sempre são correlacionados à eventos de abuso de substâncias ilícitas, como drogas pesadas.

Apesar disso, essa relação intrínseca não existe quando falamos da overdose. Embora, é claro, sejam os cenários mais comuns, em que o paciente de fato está intoxicado por alguma droga, como cocaína, isso não é a totalidade dos casos.

Seguindo esse raciocínio caricato do evento de overdose, o preconceito se torna uma face triste das interpretações sobre o tema. A overdose, logo, passa a ser vista sempre como um evento provocado e evitável, apenas às custas de uma busca mal calculada de sensações desencadeadas pela substâncias.

Por outro lado, em muitos desses episódios, a substância química envolvida não é uma droga ilícita, e nem mesmo foi provocado voluntariamente. Pacientes que fazem uso de medicamentos sem a devida orientação médica estão sujeitos aos efeitos da overdose.

Investigação clínica do paciente em overdose: o que buscar?

Na grande maioria dos casos de pacientes em overdose, se não em 100% deles, costumam ser trazidos à unidade de saúde por outros.

Assim, a pesquisa clínica deve ser feita de forma a recolher o máximo de informações acerca do uso daquela substância pelo paciente. A investigação deve incluir:

  1. Histórico detalhado do uso de substâncias e seus efeitos no funcionamento cognitivo e psicológico do paciente no presente e passado;
  2. Passado médico, em especial se alguma condição psiquiátrica envolvida;
  3. História familiar e social;
  4. Solicitar permissão para, se necessário, entrar em contato com outras pessoas que possam oferecer informações adicionais sobre o uso.

Extrapolando a esfera clínica, ainda devem ser solicitados exames de sangue e urina, a fim de avaliar a presença e concentração dessas substâncias.

Sintomas da overdose: como identificar?

Devido à grande variedade de substâncias possíveis de levar à overdose quando em excesso, os sintomas podem variar muito. Principalmente por isso, a informação de qual substância foi usada é importante.

  • Perda de consciência;
  • Excesso de sono;
  • Confusão mental;
  • Taquipneia;
  • Vômitos;
  • Pele fria.

Intoxicação aguda e overdose

A intoxicação aguda é caracterizada pelo desenvolvimento de síndromes específicas, devidas à ingestão ou exposição recente da substância. A desintoxicação, então, faz parte do tratamento.

Pensando nisso, essa exposição constante gera um prejuízo à realização de atividades diárias. Por isso, três condições básicas podem ser delineadas para manejar o paciente a depender do seu perfil. A intoxicação pode ser:

  1. Sem doença psiquiátrica associada, incluída dependência química.
    Abordagem da intoxicação e orientações gerais para o paciente.
  2. Suspeita de dependência química, sem outra doença psiquiátrica.
    Abordagem da intoxicação, avaliação diagnóstica de transtorno por uso de substâncias (TUS), sensibilização do paciente e familiares e encaminhamento para tratamento.
  3. Com comorbidade psiquiátrica e dependência química.
    Todo seguimento do perfil anterior, além de incentivar a diminuição de exposição à substância. Outras medidas importantes envolvem a lavagem gástrica, bem como a IOT, a fim de evitar uma broncoaspiração.
overdose
Considerações sobre indicação da desintoxicação ambulatorial ou hospitalar. Fonte: Miller e Kipnis, 2006.

Processo de liberação do paciente com overdose

Ao liberar o paciente da unidade, é importante que esteja certificado que a substância foi eliminada. Além disso, que o paciente seja capaz de assumir o seu controle novamente.

Caso o paciente ainda não tenha a autonomia necessária, é importante que a família ou cuidadores sejam contactados. Essa medida é especialmente importante em casos de dependência.

O processo de desintoxicação deve ser feito com cuidado e acolhimento ao paciente. Para aqueles que de fato são dependentes de substâncias psicoativas, esse é o primeiro passo para um tratamento e recuperação. Por isso, criar um ambiente positivo e encorajador pode ser decisivo para a continuidade do processo.

Abuso de álcool e overdose

A apresentação clínica do paciente em overdose por abuso de álcool varia bastante a depender da concentração de álcool no sangue. Outro fator que pode variar com essa concentração é a tolerância do paciente.

Sendo assim, de maneira geral alcoolemias entre 20mg% e 80mg%, a perda da coordenação muscular e alterações do humor começa, a acontecer. A partir de 80mg% à 200mg%, as alterações neurológicas progressivas surgem.

A atenção à esses pacientes deve envolver o cuidado ao risco de broncoaspiração do conteúdo gástrico. Esse cuidado é intensificado em alcoolemias entre 200 a 300mg%.

O coma passa a ser visto em pacientes com níveis de 400mg% a 600mg%, o que pode variar a depender da tolerância do paciente. Pacientes com alcoolemia superior à 600mg% à 800mg%, costumam ser fatais.

Manejo do paciente em overdose por abuso de álcool

A indicação da administração de soro fisiológico via intravenosa é reservada aos pacientes com sinais de desidratação. Sobre a administração de glicose, à pacientes hipoglicêmicos.

Ainda, na tentativa de evitar a síndrome de Wernicke em pacientes com carência de tiamina, antes mesmo da administração de glicose hipertônica, deve ser feita a administração da tiamina.

Cocaína e outros estimulantes: entenda como se segue essa intoxicação

Os estimulantes, por sua vez, resultam em efeitos opostos aos provocados pelos depressores. Por isso, as repostas mais comuns são o aumento da pressão arterial, frequência cardíaca e respiratório.

Outras respostas metabólicas envolvem o aumento da temperatura corporal, dilatação pupilar e aumento da atividade motora.

Por ser uma intoxicação autolimitada, garantir monitorização e atendimento de apoio é fundamental nesses casos. Apesar disso, em casos de overdose por cocaína em agitação psicomotora intensa, a internação com cuidado intensivo é recomendada. Esses quadros oferecem risco de morte.

Farmacocinética e a overdose: o que acontece?

Durante a biotransformação ocorrem reações metabólicas (oxidação/redução e conjugação) com o auxílio de enzimas (como o citocromo P450), que transformam as substâncias em metabólitos para que sejam eliminadas pela urina. Esse processo ocorre normalmente no fígado.

O que acontece durante uma situação de dosagem excessiva (overdose), é que a absorção da substância é muito maior e mais rápida (por conta da ingestão da mesma), acelerando a sua distribuição.

Dessa forma, a biotransformação não consegue agir de maneira efetiva e isso gera a intoxicação – o acúmulo das substâncias tóxicas que não foram metabolizadas.

Overdose por depressores do SNC

A overdose por essas substâncias pode causar morte por parada respiratória, pois as mesmas possuem efeito depressor sobre a respiração.

Os sintomas comuns são:

  • Coma;
  • Bradipneia ou parada respiratória;
  • Hipotermia;
  • Hipotensão e bradicardia;
  • Falência cardiovascular.

Casos de overdose por benzodiazepínicos são raros, visto que os mesmos possuem uma ampla margem de segurança se usados excessivamente. Mesmo se ingeridos em quantidades exorbitantes, os sintomas comuns são  confusão leve, sonolência, letargia, ataxia e baixa depressão nos sinais vitais.

Porém, se associados a outras substâncias sedativo-hipnóticas (como o álcool), podem gerar quadros graves, onde pequenas doses de BZ podem causar a morte.

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Perguntas frequentes

  1. O que é a overdose?
    A overdose é o conjunto de sinais e sintomas consequentes do abuso de substâncias (drogas ou medicamentos).
  2. Quais são os cuidados ao paciente em overdose?
    Garantir a interrupção do consumo da substância, promover acolhimento e a limpeza da medicação.
  3. Qual diferença entre as reações orgânicas do paciente em overdose por depressores e estimulantes?
    A overdose por depressores causa efeitos que diminuem a atividade metabólica, como bradicardia e bradipneia. Por outro lado, os estimulantes causam efeitos opostos, como taquicardia e taquipneia, entre outros.

Referências

  1. SADOCK, B. J.; SADOCK, V. A.; RUIZ, P. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11ª Edição. Porto Alegre: Artmed, 2017.
  2. Katzung, Bertram G. Mc Graw Hill. Farmacologia Básica e Clínica .12aedição. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  3. Management of patients with substance use illnesses in psychiatric emergency department. Ricardo Abrantes do Amaral e colaboradores.