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Escore de Gleason: avaliação do grau histológico do câncer de próstata | Colunistas

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O Escore de Gleason, definido pelo médico patologista Dr. Donald Gleason na década de 1960, é um sistema que avalia o grau histológico do câncer de próstata, doença comum em homens mais velhos, entre 65 e 75 anos de idade. Microscopicamente, possuem diferenciação variável e a estratificação através do escore correlaciona o estágio patológico e prognóstico. O diagnóstico é feito por diversos exames, como toque retal, biópsia, PSA, ultrassonografia e estudo histopatológico. O estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata é indicado quando há anormalidades no toque retal e/ou na dosagem do PSA.

A escala classifica a citoarquitetura tecidual ao microscópio em pequeno aumento, baseado na diferenciação glandular, em 5 graus distintos, sendo nessa graduação as células do câncer comparadas às células prostáticas normais. Dessa forma, o grau 1 é o mais bem diferenciado e menos agressivo, possuindo melhor prognóstico, e o grau 5 é o menos diferenciado e mais agressivo, com pior prognóstico. O escore tem como objetivo identificar a provável taxa de crescimento e tendência à disseminação da doença.

Tabela 1: Grau e suas características

Grau 1 Células uniformes e pequenas, formação de glândulas regulares, pouca variação de tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com pouco estroma
Grau 2 Células variam mais em tamanho e forma, glândulas uniformes frouxamente agrupadas e com bordos irregulares
Grau 3 Células variam ainda mais em tamanho e forma, glândulas muito pequenas, uniformes, anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma. Podem formar massas fusiformes ou papilíferas, com bordas lisas
Grau 4 Muitas células fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, distribuídas anarquicamente, com infiltração irregular e invasão de tecidos adjacentes. As glândulas podem apresentar células pálidas e grandes, com padrão hipernefroide
Grau 5 Tumor anaplásico. Células agrupadas em grandes massas com invasão dos órgãos e tecidos vizinhos, podendo exibir necrose central. A diferenciação glandular pode não existir, exibindo um padrão de crescimento infiltrativo do tipo células soltas
Fonte: Super Material Câncer de Próstata – Sanarflix

Devido à característica multifocal da doença, são encontrados, geralmente, pelo menos 2 graus distintos na amostra de biópsia, e a soma dos dois padrões encontrados gera a pontuação final, caracterizando o escore de Gleason. Se três ou mais padrões diferentes são encontrados na mesma amostra, utiliza-se os dois padrões mais frequentes (dominante/primário e subdominante/secundário) para somatório. Se existir um padrão menos diferenciado (com grau maior) em uma amostra com outros 2 padrões mais diferenciados predominantes, deve-se fazer uma observação no laudo anatomopatológico descrevendo esse padrão. Quando apenas um padrão é encontrado, duplica-se o grau para o escore. Assim, o Gleason varia de 2 a 10.

Tabela 2: Interpretação clínica do Escore de Gleason

Bem diferenciado Gleason 2-4
Intermediário Gleason 5-6
Pouco diferenciado Gleason 7
Indiferenciado Gleason 8-10
Imagem A: Câncer de próstata de baixo grau (pontuação de Gleason 1 + 1 = 2), que consiste em glândulas malignas adjacentes, de tamanho uniforme. Fonte: Robbins & Cotran – Bases patológicas das doenças
Imagem B: Biópsia de agulha da próstata com glândulas de tamanho variáve e mais amplamente dispersas de adenocarcinoma moderadamente diferenciado (pontuação de Gleason 3 + 3 = 6). Fonte: Robbins & Cotran – Bases patológicas das doenças
Imagem C: Adenocarcinoma indiferenciado (pontuação de Gleason 5 + 5 = 10), composto por lençóis de células malignas. Fonte: Robbins & Cotran – Bases patológicas das doenças

Tumores classificados como bem diferenciados são achados, em geral, incidentais. A maioria dos tumores detectados pelo rastreamento com PSA possui interpretação clínica entre intermediário e pouco diferenciado. Um Gleason maior ou igual a 8 está associado a tumores avançados.

  • Gleason de 2 a 4 – câncer com crescimento provavelmente lento; cerca de 25% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida.
  • Gleason de 5 a 7 – câncer de crescimento lento ou rápido, a depender de outros fatores; cerca de 50% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida.
  • Gleason de 8 a 10 – câncer de crescimento muito rápido; cerca de 75% de chance de disseminação do câncer para fora da próstata em 10 anos, com dano em outros órgãos, afetando a sobrevida.

Atualmente, utiliza-se o sistema de classificação prognóstica elaborado pela Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP), que leva em consideração que tumores com a mesma pontuação podem possuir comportamentos biológicos distintos e a partir disso tem como objetivo refinar a capacidade prognóstica do Gleason. Um Gleason de 7 pode ser 4 + 3 ou 3 + 4, sendo o primeiro mais agressivo devido seu predomínio de um tecido mais indiferenciado, mas a pontuação se mantém a mesma.

Tabela 3: Grupos Prognósticos ou Grupos de Grau

Grupo 1 Gleason ≤ 6
Grupo 2 Gleason 3 + 4 = 7
Grupo 3 Gleason 4 + 3 = 7
Grupo 4 Gleason = 8
Grupo 5 Gleason = 9 ou 10

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da sanar sobre o assunto.

Observação: material produzido durante vigência do Programa de colunistas Sanar junto com estudantes de medicina e ligas acadêmicas de todo Brasil. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido. Eventualmente, esses materiais podem passar por atualização.

Novidade: temos colunas sendo produzidas por Experts da Sanar, médicos conceituados em suas áreas de atuação e coordenadores da Sanar Pós.


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Referências

KUMAR, Vinay et al. Robbins & Cotran bases patológicas das doenças. In: Robbins & Cotran bases patológicas das doenças. 2010. p. 1458-1458.

Programa nacional de controle do câncer de próstata http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cancer_da_prostata.pdf

Câncer de Próstata –  https://sboc.org.br/images/diretrizes/diretrizes_pdfs/Cancer_de_prostata.pdf

Diretrizes oncológicas: Câncer de Próstatahttps://diretrizesoncologicas.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Diretrizes-oncologicas_separata_Prostata.pdf

Biópsia para o diagnóstico de câncer de próstatahttp://www.oncoguia.org.br/conteudo/biopsia-para-diagnostico-do-cancer-de–prostata/1201/289/

Supermaterial Sanarflix: Câncer de próstatahttps://aluno.sanarflix.com.br/#/portal/sala-aula/5daabc714340d20011fb2998/5daabc014340d20011fb2995/documento/5f3e8664494f52001cfe3740

HOFF, Paulo Marcelo Gehm et al. Tratado de oncologia. 2013.

Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Adenocarcinoma de Próstata. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (CONITEC). Ministério da Saúde (MS), 2015.

Hoffman, RM. Screening for prostate cancer. Uptodate. Mar, 2020.

Câncer de próstata: métodos de diagnósticos, prevenção e tratamento – https://www.mastereditora.com.br/periodico/20150501_174533.pdf

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