Índice
- 1 Epidemiologia da pancreatite aguda
- 2 Fatores de risco
- 3 Classificação da pancreatite aguda para diagnóstico
- 4 Etiologias da pancreatite aguda
- 5 Fisiopatologia da pancreatite aguda
- 6 Quadro Clínico
- 7 Diagnóstico da pancreatite aguda
- 8 Diagnóstico diferencial da pancreatite aguda
- 9 Tratamento da pancreatite aguda
- 10 Sugestão de Leitura Complementar
- 11 Referências
A pancreatite aguda é o processo inflamatório agudo do pâncreas. Ela se manifesta inicialmente com dor abdominal aguda. Entretanto, já sabemos que “dor abdominal” é uma grande síndrome e que pode ter diversas causas. Assim, é necessário exames laboratoriais e de imagens para confirmação e/ou exclusão do diagnóstico.
Para saber mais sobre a pancreatite aguda, seus dados epidemiológicos, classificação, sobre as diferentes etiologias da pancreatite aguda, continue a leitura do texto. Abordaremos ainda sobre a fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento.
Epidemiologia da pancreatite aguda
A incidência da pancreatite nos países varia de acordo com seus padrões epidemiológicos. Isso por que a doença tem diversas causas e cada uma delas vai ter maior ou menor prevalência em cada país. Dentre as doenças gastrointestinais que necessitam de internamento, a pancreatite aguda é a principal causa nos Estados Unidos.
De uma forma geral, estima-se que a incidência anual varie de 13 a 45 casos por 100 mil habitantes. Além disso, a pancreatite aguda é responsável por 280.000 hospitalizações por ano, tendo 5 dias como o tempo médio de internamento.
A prevalência da doença aumenta com o aumento da idade. É mais comum em negros e em mulheres.
A maioria dos casos são leves, tendo uma baixa mortalidade. O que vai determinar a evolução da doença e o seu prognóstico é o tempo de ação do médico no diagnóstico e no tratamento.
Fatores de risco
Os fatores de risco da pancreatite aguda são:
- Idade maior que 60 anos;
- Comorbidades como câncer, Insuficiência Cardíaca Congestiva, Doenças hepáticas;
- Uso crônico de álcool;
- Obesidade.
Classificação da pancreatite aguda para diagnóstico
A pancreatite aguda pode ser classificada de acordo com a falência e complicações de órgãos. Confira:
- Leve: ausência de falência de órgãos e complicações locais ou sistêmicas;
- Moderadamente grave: falência orgânica transitória (resolve-se em 48 horas) e/ou complicações locais ou sistêmicas sem falência persistente de órgãos (>48 horas);
- Aguda grave: falência persistente de órgãos que pode envolver um ou múltiplos órgãos.
Essa classificação é realizada de acordo com a Classificação de Atlanta, que diz sobre a gravidade da doença.
Etiologias da pancreatite aguda
Existem diversas causas de pancreatite aguda. A principal delas é a presença de cálculos biliares, seguido de álcool. Juntas, essas duas etiologias são responsáveis por 80 a 90% dos casos em adultos. Em crianças, a principal causa é trauma.
Podemos dividir as causas em cinco grandes grupos:
- Causas Obstrutivas: colelitíase, tumores pancreáticos, corpo estranho, parasitos, etc;
- Trauma: trauma direto no abdome, pós-operatório, e particularmente o de abdome fechado;
- Drogas: azatioprina, 6-mercaptopurina, sulfonamidas, estrogênios, tetraciclina, ácido valproico, fármacos anti-HIV, ácido 5-aminossalicílico [5-ASA];
- Toxinas: álcool, veneno de escorpião, etc;
- Outros: Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), particularmente depois da manometria biliar, Distúrbios metabólicos (hipertrigliceridemia, hipercalcemia), autoimune, infecções.
Fisiopatologia da pancreatite aguda
A pancreatite aguda pode ser dividida em três fases:
- Fase inicial: ativação intrapancreática das enzimas digestivas e lesão das células acinares. A principal enzima dessa fase é a tripsina;
- Segunda fase: ativação, quimiotaxia e sequestro de neutrófilos e macrófagos no pâncreas, que causam reação inflamatória intrapancreática aumentada;
- Terceira fase: efeitos das enzimas proteolíticas ativadas e das citocinas liberadas pelo pâncreas inflamado nos órgãos distantes.
Os efeitos causados pela ação dessas enzimas podem ser percebidos em sinais e sintomas da doença. São liberadas sustâncias vasoativas, histaminas, que podem levar à edema, hemorragia intersticial, danos vasculares e até a Síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) e à falência de alguns órgãos.
Quadro Clínico
Como já havíamos falado, a dor abdominal é a principal queixa do paciente. Esta, geralmente está localizada no quadrante superior esquerdo do abdome. Aparece de forma intensa e súbita na maioria dos casos.
Classicamente é uma dor em faixa. Mas nem sempre na prática o paciente vai referir dessa forma. Podemos encontrar ainda como queixa de dor epigástrica, que pode irradiar para dorso.
Além da dor, podemos encontrar outros sintomas:
- Náuseas e vômitos;
- Febre e sudorese;
- Diminuição ou parada na eliminação de gases e fezes;
- Distensão abdominal
- Icterícia
- Colangite
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Para revisar os outros possíveis casos de dor abdominal, sugerimos a leitura do texto: Dor Abdominal: Sinais e Padrões Semiológicos.
Diagnóstico da pancreatite aguda
Para realizar o diagnóstico é necessário, para além do exame clínico, o resultado de exames laboratoriais. Os exames de imagem podem ser necessários para excluir outras patologias que o médico possa estar em dúvida.
Anamnese da pancreatite aguda
Deve-se questionar sobre as queixas do paciente, sintomas associados, hábitos de vida, alimentação, história familiar, se já realizou algum procedimento cirúrgico prévio, se teve algum trauma recentemente, algum acidente.
É preciso ainda caracterizar bem a dor:
- Localização
- Tem irradiação?
- Intensidade
- Qualidade
- Cronologia (início, duração, frequência, horário preferencial, episódios anteriores, etc)
- Fator desencadeante
- Fator de piora e de melhora (farmacológico ou não).
Exame físico
No exame físico, o examinador deve ficar atento à sinais de gravidade:
- Ascite;
- Derrame pleural;
- Presença de equimoses (Sinal de Cullen – equimose periumbilical; Sinal de Gray-Tuner – equimose em flancos).
Além disso, deve fazer palpação no abdome a fim de observar aumento de sensibilidade, aumento do volume abdominal, rigidez muscular, presença ou não de massas e tumorações. Em pacientes alcoólatras, a hepatomegalia pode estar presente.
Os pacientes podem ter distensão abdominal e sons intestinais hipoativos devido a um íleo secundário à inflamação. Podem ter ainda icterícia escleral devido a icterícia obstrutiva devido a coledocolitíase ou edema da cabeça do pâncreas.
É comum ainda encontrar o paciente com Febre baixa, taquicardia e hipertensão.
Exames Laboratoriais da pancreatite aguda
Os exames que devem ser solicitados prioritariamente são lipase e amilases séricas. Caso elas estejam 3x ou mais acima da normalidade, o diagnóstico está confirmado, desde que já tinha excluído outras causas como a presença de perfuração, isquemia e infarto do intestino.
Devemos pedir ainda:
- Hemograma: hematócrito e leucograma;
- Glicemia;
- Lactato venoso/arterial;
- LDH;
- Ureia e creatinina;
- Cálcio;
- AST e ALT;
- Proteína C reativa;
- Gasometria arterial.
Exames de Imagem da pancreatite aguda
Os exames de imagem são exames complementarem que ajudam aos profissionais a confirmarem o diagnóstico da doença. Na pancreatite aguda temos as seguintes opções e achados:
- Radiografias abdominais e torácicas: podem estar normais ou com presença de alça sentinela e/ou sinal de corte do cólon. Podemos ainda ter a aparência de vidro fosco;
- Ultrassonografia: o pâncreas aparece difusamente aumentado e hipoecoico na ultrassonografia abdominal. Os cálculos biliares podem ser visualizados na vesícula biliar ou no ducto biliar;
- Tomografia computadorizada abdominal: é boa para verificar a presença de necrose do tecido pancreático a extensão da mesma;
- Ressonância magnética: maior sensibilidade para o diagnóstico de pancreatite aguda precoce em comparação com a tomografia computadorizada abdominal com contraste e pode caracterizar melhor os ductos pancreáticos e biliares e as complicações da pancreatite aguda. Apesar disso, não é o primeiro exame a ser solicitado devido ao custo.
Diagnóstico diferencial da pancreatite aguda
Algumas doenças tem características semelhantes. É importante tê-las em mente na hora de realizar o diagnóstico, para que possa excluir a possibilidade de alguma delas.
- Úlcera péptica
- Colangite
- Colescistite
- Víscera perfurada
- Obstrução intestinal
- Isquemia mesentérica
- Hepatite
Tratamento da pancreatite aguda
O tratamento da pancreatite aguda é baseado na:
- Hidratação;
- Controle da dor;
- Nutrição;
- Tratar etiologia e as complicações.
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Sugestão de Leitura Complementar
- Caso Clínico de Pancreatite Aguda
- Resumo de pancreatite crônica: epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento
- Escore de Bisap | Colunistas
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Referências
- CAMPOS, T. et al. Classificação de gravidade na pancreatite aguda. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, abril de 2013. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0100-69912013000200015>. Acesso em: 07/12/2022.
- MARTINS, M. A. et al. Semiologia Clínica. Santana de Parnaíba [SP] : Manole, 2021.
- VEGE, S. S. Clinical manifestations and diagnosis of acute pancreatitis. UpToDate, 2022.
- VEGE, S. S. Etiology of acute pancreatitis. UpToDate, 2022.
- VEGE, S. S. Pathogenesis of acute pancreatitis. UpToDate, 2021.
- VEGE, S. S. Management of acute pancreatitis. UpToDate, 2022.
- VEGE, S. S. Predicting the severity of acute pancreatitis. UpToDate, 2022.