Residência Médica

Rotina da residência em infectologia

Rotina da residência em infectologia

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Imagem de perfil de Residência Médica

A rotina da residência em infectologia é intensa, como se espera de uma especialização caracterizada pelo aprendizado em serviço com carga horária de 60 horas semanais.

O volume de trabalho tem um motivo: o médico infectologista é o profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento de pacientes com infecções diversas. Sua atuação é como a de um médico generalista, já que interagem com outras especialidades.

Atualmente, o Brasil possui 3.746 infectologistas, sendo que 57,8% deles estão concentrados na região Sudeste. A média é de 1,80 especialista por 100 mil habitantes.

Os dados são da Demografia Médica no Brasil 2018, elaborado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A publicação indica ainda que 489 médicos cursavam Residência Médica em Infectologia em 2017, ocupando parte das 849 vagas autorizadas para a especialidade em 75 instituições de ensino.

Os médicos Victor Porfírio, residente do 2º ano de Infectologia do Hospital Couto Maia, e Ícaro Nunes, residente do 2º ano de Infectologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), contam detalhes de suas experiências em instituições com perfis tão diferentes. Uma dessas diferenças, o perfil: o Couto Maia é especializado em doenças infecciosas, enquanto o Hupes atende diversas especialidades.

Fique atento(a), porque existem coisas que você não pode deixar de saber antes de escolher a residência em Infectologia. Acompanhe os detalhes abaixo para escolher bem a sua especialidade!

Como a residência em infectologia é dividida 

A Residência Médica de Infectologia tem duração de três anos, divididos com experiências em diferentes áreas de atuação da especialidade.

Não há muitas diferenças entre as instituições nesse sentido, de modo que os residentes passam por momentos de imersão em Clínica Médica, no atendimento ambulatorial, em estágios na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e passam por rodízios em outras unidades hospitalares.

O R1 geralmente é dividido em atendimentos em especialidades de Clínica Médica, Cardiologia Nefrologia, em pronto-atendimento de Infectologia do próprio hospital. No R2, a rotina é semelhante, mas são incluídos também meses em UTI, no CCIH, em laboratórios, no serviço particular.

Esse último chama mais atenção por mostrarem perfis diferentes de paciente e por permitir ao residente acesso a medicamentos que na rede pública de saúde dificilmente manipulariam.

“A gente vê doenças que de certa forma acabam tendo relação com o perfil socioeconômico. No particular, a gente vê infecções que não têm tanta relação assim”, conta Victor Porfírio.

O R3 também segue a mesma dinâmica, com o diferencial de assumir todo o controle da enfermaria, ou ainda pegar algum paciente. Há ainda três meses de opcional, nos quais o residente escolhe onde estudar.

No caso do Hupes, Ícaro Nunes conta que são três estágios optativos no terceiro período de formação. Algumas pessoas aproveitam para fazer intercâmbio ou algum estágio externo, por exemplo. 

Em resumo, o primeiro ano de Residência permite experiências mais generalizadas e a partir do segundo ano a formação passa a ser mais especializada, até que no terceiro ano o residente passa a acompanhar e orientar outros colegas nas enfermarias.

O diferencial das instituições é: numa unidade especializada em infectologia, você tem acesso a casos mais direcionados à infectologia; num hospital, as demandas do especialista costumam vir associadas a outras especialidades, por meio de interconsultas.

Há ainda as aulas teóricas, que ocorrem em dias específicos da semana e é quando os residentes discutem casos e temas referentes ao que foi visto no serviço prático. As visitas nas enfermarias também são oportunidade de discussão teórica de algum assunto associado às enfermidades dos pacientes. 

Alinhando as principais expectativas

Os residentes Victor Porfírio e Ícaro Nunes já conheciam um pouco da Infectologia antes de escolherem a especialidade, devido ao período de internato. Isso, no entanto, não elimina as expectativas que surgem diante de uma nova experiência vivida. 

No caso de Victor, havia a expectativa de incrementar o conhecimento prático que havia adquirido e a escolha pelo Couto Maia foi orientada, justamente, por isso.

Devido à característica de centro especializado, há diversidade de pacientes que certamente não é encontrada em outras unidades. 

“Antes da pandemia, a gente tava com 36 leitos de residência. Com esses 36 leitos, a gente tinha rotatividade grande, perfil de pacientes diversos. Acho que é a especialidade que pra a gente consolidar algumas coisas precisa ver muito. Tem coisa que a gente só vai consolidar com a repetição, exercícios práticos, formulação de hipóteses diagnósticas, correr atrás do diagnóstico”, conta ele, que tem percebido o refino da sua conduta.

Ícaro chegou no Hupes mais com certezas do que expectativas, porque conhecia os preceptores e o quanto são bons no que fazem. Nesses dois anos de serviço na unidade, desenvolveu também o interesse pela área de infectologia hospitalar, com foco nos pacientes internados em enfermaria e interconsulta com outras especialidades. 

“Infecto tem o privilégio de pegar paciente instável para caramba e em um ou dois meses depois ele sai andando, com a vida completamente normal. (…) Nesse contexto de ter muito paciente grave, essa é uma preferência minha, que tenho predileção por resolutividade, acho que é o grande privilégio da Infectologia. Os pacientes que não forem curados, hoje em dia têm possibilidade de tratamentos maravilhoso”, destaca. 

O melhor da residência em Infectologia

O melhor da Residência Médica em Infectologia é unanimidade entre os residentes Victor Porfírio e Ícaro Nunes: o aprendizado. Por atuar como um generalista, o infectologista acaba tendo domínio sobre o corpo humano como um todo, não apenas um órgão ou uma função do organismo. E o aprendizado é diretamente com o paciente.

Ícaro, em particular, destaca a importância dessa especialidade para as populações mais vulneráveis e o lado social desse serviço.

“A gente vê no dia a dia dos profissionais com os quais a gente trabalha a devoção a isso. Grande parte dos nossos pacientes são com HIV grave, com tuberculose, em situação de vulnerabilidade. A gente aprende a trabalhar lado a lado com o serviço social, entender demandas que não são diretamente ligadas à saúde orgânica, e isso eu acho fenomenal. Poder trabalhar com isso e ter esse tipo de ligação com os pacientes é um privilégio”, afirma.

Victor destaca também a possibilidade de aprender com os colegas, não apenas com os preceptores. Como cada um tem interesses e habilidades em áreas específicas, os colegas podem ensinar uns aos outros sobre dúvidas que surjam. O residente chama a atenção também para a estrutura onde se desenvolve o programa de residência. 

“Não é só um prédio, é uma estrutura funcionante, com ambulatórios, enfermarias, UTIs, serviços de bioimagem, emergência que funciona, centro de vacinações, laboratórios”, destaca o residente do Hospital Couto Maia.

O mais difícil 

Entre as diversas experiências, mais um consenso sobre a Residência Médica em Infectologia: a carga intensa de trabalho dificulta o processo. Mas é também saber compartilhado entre os residentes que esse momento da carreira precisa ser prioridade, logo, o tempo precisa ser administrado nesse sentido. 

“Nem todo mundo tem como se manter com a bolsa da residência [no valor de R$ 3.330,43], tem outras responsabilidades, às vezes quer trabalhar. Só a residência é bastante pesada. O fato é que quando a gente vai passando, a gente vai aprendendo a lidar com questão da carga horária”, observa Ícaro. 

O pior é mesmo no primeiro ano de residência, porque o médico ainda não está acostumado com a dinâmica do programa, tem que dar plantão quase todo final de semana, é mesmo a mão de obra. Mas não é sempre ao longo do curso que o residente cumpre a rigor as 60 horas semanais.

“Tem outros momentos que a carga horária é flexibilizada, principalmente quando faz rodízios que não têm demanda de final de semana, como nos ambulatórios. A gente fica de segunda a sexta-feira e cumpre o que seria rotina de consultas”, pondera Victor. 

Independentemente, a vida social é impactada por essa demanda profissional do médico. Mas os residentes reforçam que existe aí uma questão de prioridade, e a residência precisa ser intensa dessa forma, de modo que ela também precisa ser levada com seriedade. 

“A imersão em serviço é o padrão ouro de pós-graduação médica por algum motivo. A residência é o momento que tem que tirar de nossa vida pra viver aquilo. Muitos colegas acabam desistindo porque não estão naquele momento de se dedicar completamente a um serviço para aprender. São muitas horas, mas a recompensa compensa”, acrescenta Ícaro.

Expectativa de trabalho e emprego

A área de Infectologia é ampla e possui diversos campos de atuação possíveis. Pode ser em ambulatório, com consultas, infectologia geral ou áreas específicas, como hanseníase e HIV, tanto no serviço público quanto no particular.

É possível atuação em hospitais também, sendo infectologista que acompanha o estado de saúde de pacientes internados na unidade ou o interconsultor, que é chamado em casos de pacientes de outras especialidades que pegaram algum tipo de infecção.

A Infectologia Hospitalar é responsável pelo CCIH, e dialoga com a gestão do hospital, melhoria de fluxos e processos para redução do risco de infecção. 

Há ainda atuação possível com pesquisa científica, laboratórios e docência. Neste último caso, o infectologista pode dar aulas do Ciclo Básico, como microbiologia, e do Ciclo Clínico e Internato. 

O salário do médico infectologista pode ser em médio R$ 7 mil por mês, numa escala de 20 horas semanais. O valor pode variar de acordo com o momento da carreira e o local de atuação escolhidos.

Conclusão sobre a rotina da residência em infectologia

A carga horária intensa pode assustar o médico que pensa em fazer Residência Médica em Infectologia, mas carga horária de trabalho é pesada em qualquer especialidade.

É mesmo uma característica do programa da Residência Médica, afinal, o médico aprende com o paciente, e quanto mais atender, mais experiências e expertises desenvolvidas.

No caso da Infectologia, em particular, essa especialidade tem como característica o cuidado com todo o corpo humano, não apenas um sistema.

Essa atuação ampla implica campos de trabalho diversos, mercado aberto para novos profissionais, e remuneração que pode variar de acordo com a escolha de cada um. 

A Infectologia é uma especialidade que abarca diferentes perfis profissionais, basta só conhecer as diversas áreas e alinhar suas expectativas e habilidades para escolher que área seguir!

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