Residência Médica

Rotina na residência de Pediatria

Rotina na residência de Pediatria

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A Pediatria é a uma das especialidades mais procuradas quando o assunto é residência médica e traz uma série de possibilidades de atuação. Por isso, a rotina na residência de Pediatria também reserva desafios e particularidades.

Em 2018, mais de 12% de todos os recém-formados em Medicina (total de 400 médicos) tinham a residência médica em Pediatria como primeira opção. O acesso para o programa de residência é direto. O Brasil conta com 39.234 Pediatras, sendo 18,39 por 100 mil habitantes, segundo a Demografia Médica no Brasil 2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM). Porém, especialistas afirmam que existe demanda para mais de 357 mil Pediatras.

O levantamento do CFM indica também que 3.448 médicos estão na residência médica em Pediatria, que oferece um total de 5.210 vagas autorizadas. São 273 instituições de ensino que oferecem essa especialidade, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para você saber tudo sobre a rotina da residente de Pediatria, a Sanar Residência Médica entrevistou Caroline Soriano, do R1 do Hospital Martagão Gesteira, e Ana Clara Andrade, do R1 da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Elas nos contaram um pouco do que vivem e esperam viver ao longo dos respectivos programas de residência médica.

A escolha pela Pediatria foi uma surpresa para Caroline, que não tinha na especialidade a sua primeira opção. Porém, ela se apaixonou pela área no decorrer da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.

“Depois que comecei a trabalhar com a Pediatria na faculdade, percebi que me dava muita recompensa no que diz respeito aos pacientes, pois eles são muito verdadeiros e gratos aos médicos. A ideia de poder curar e prolongar a vida deles me encanta”, explica.

Quando optou por fazer residência no Hospital Martagão Gesteira, uma de suas principais influências foi alguém especial: sua mãe, médica pediatra, também foi residente na instituição e lhe garantiu que era uma das melhores opções para Pediatria.

”Pela  experiência que minha mãe tinha, sempre me dizia que lá [Hospital Martagão Gesteira] iria encontrar tudo que poderia ver adiante na Pediatria. Ela me disse que seria a formação mais completa possível”, lembra.

Ana Clara, por sua vez, afirma que sentiu vocação para a especialidade desde cedo por gostar de trabalhar com crianças e por enxergar nelas pacientes diferenciados. Segundo ela, durante a faculdade, sempre buscava se engajar em algo relacionado à Pediatria.

“Sempre procurei estágios e ligas em Pediatria. Quando entrei no curso de Medicina, já pensava em atuar na área. Não me fechei para outras possibilidades, mas trabalhar com crianças sempre me encantou. Elas não são mini adultos, seres especiais que precisam de cuidados especiais”, conta.

Nascida e criada em Salvador, Ana Clara lembra que precisou mudar de cidade para estudar medicina na UFS. Por isso, a familiaridade com o ensino e a possibilidade de continuar em Aracaju foram fatores determinantes para que ela escolhesse fazer residência na instituição.

“Foi algo mais confortável para mim. Eu já conhecia a equipe e a proposta da Universidade e, como eu já tinha passado por algumas mudanças para chegar até aqui, eu não estava a fim de passar por todo esse processo novamente”, diz. 

Existem mais coisas que você não pode deixar de saber antes de optar pela residência em Pediatria. Então saiba mais detalhes e escolha bem a sua especialidade!

Como a residência em pediatria é dividida 

Desde 2019, a residência médica em Pediatria tem duração de três anos. São 60 horas de jornada de trabalho por semana (40h em atividades de rotina e 20h em plantão). Na Resolução que aumentou o tempo de residência de dois para três anos, as habilidades exigidas na RM em Pediatria foram divididas da seguinte maneira:

  • R1: atenção básica, treinamento em cuidados a pacientes internados, atenção neonatal básica e treinamento em urgência e emergência;
  • R2: atendimento ambulatorial de pediatria e atendimento a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, atenção neonatal, treinamento em terapia intensiva pediátrica;
  • R3: Atendimento ambulatorial, cuidado a pacientes portadores de doenças relacionadas ao domínio das áreas de atuação pediátrica, treinamento em urgência, emergência, trauma e clínico em pré e pós-operatório, treinamento em terapia intensiva pediátrica e neonatal.

O R1 é dividido em rodízios: as residentes passam os meses transitando em diversos setores da Pediatria, analisando as prescrições e, com ajuda do preceptor, trabalhando para melhorar o quadro clínico dos pacientes.

“A gente trabalha, principalmente, a parte básica. Então temos acesso a maternidade, triagem neonatal, contato com a enfermaria, salas de parto, ambulatórios diversos, como se fosse uma triagem de todas essas áreas”, explica Ana Clara.

A partir do segundo ano, as residentes lidam com casos mais graves, atuando em UTI’s pediátricas e de neonatologia. Também passam a ter acesso a ambulatórios mais específicos como os de hematologia, gastroenterologia e pneumologia pediátrica; além de ajudar a fazer o acesso venoso central nas cirurgias pediátricas.

Residentes do Hospital Martagão Gesteira, ao longo do R2, passam pela UTD (Unidade de Terapia de Desospitalização). Caroline ressalta que essa experiência torna a instituição diferenciada na Pediatria, já que nem todas as residências a oferecem em seus programas. 

“Nesta Unidade, temos pacientes internados que que tem traqueostomia, gastrostomia e dependem de ventilação mecânica. As mães são treinadas a trabalhar com esse equipamentos e essas crianças ficam aguardando uma vaga para poderem ir pra casa com suporte de home care”.

No R3, as residentes passam a trabalhar com áreas mais especializadas, como atendimento a prematuros, síndrome de down e outros casos mais específicos. Ao longo dos três anos de residência, os programas oferecem a oportunidade de transitar por todas as áreas que um residente pode seguir ao longo da carreira.

Alinhando as principais expectativas

Caroline revela que, antes de entrar na residência, esperava por uma realidade perfeita. Porém, como em qualquer área, o residente de pediatria também passa por experiências não tão satisfatórias.

“A gente sempre acha que [a residência] será mil maravilhas e que irá trabalhar apenas com o que eu gosta. Depois percebe que há algumas burocracias e uma parte da Pediatria que não gosta, mas tem de fazer. Eu, mesma não me identifico com enfermaria pediátrica, mas tenho que trabalhar com isso também” diz.

Atualmente, Caroline está no final do primeiro ano. Quando questionada sobre suas principais expectativas sobre o programa, diz que pretende se dedicar e fazer uma excelente residência para poder oferecer o melhor tratamento a seus pacientes.

”Quero atender as crianças cada vez melhor e espero poder usar o conhecimento em ambulatório pediátrico, que é onde quero trabalhar. Disso eu tenho certeza. Se vou fazer alguma subespecialidade ou se vou seguir na Pediatria Geral, ainda é algo a se pensar” comenta.

Ana Clara revela que, antes de entrar na residência, já tinha desejo de adquirir mais conhecimento. O conteúdo passado na Universidade é muito voltado para o paciente adulto, explorando pouco a Pediatria, afirma.

“Apesar de ter uma equipe boa, a abordagem pediátrica era muito superficial. Nós estudamos puericultura, que é a base da especialidade. mas é na residência que nos aprofundamos mesmo em cada especialidade em relação ao cuidado com a criança” complementa.

Ana Clara é enfática ao comentar sobre a expectativa de se tornar uma médica atenciosa e aprimorada no cuidado com o paciente e com a família dele.

“Quero trabalhar na saúde de forma mais ampla, não somente pensando na doença, mas no bem-estar da criança, seja físico, emocional ou intelectual. Enfim, cuidar da criança como um todo e fazer a diferença na vida dela”.

O melhor da residência em Pediatria

O contato com os pacientes e a sua recuperação são os pontos positivos da residência médica em Pediatria. Para Caroline, uma das melhores coisas da está na possibilidade de aprender e conviver com as crianças.

“Às vezes, as crianças nos mostram coisas que não vemos por termos uma visão adulta. Elas são verdadeiras e nos oferecem um agradecimento sincero quando um trabalho é bem feito. E o agradecimento de uma criança faz bem a qualquer médico, mesmo que não seja Pediatra”, comenta.

De forma semelhante, Ana Clara se emociona ao comentar sobre o lado humano da Pediatria, que oferece pequenas e valiosas recompensas através de um olhar ou sorriso de uma criança.

“Fico muito encantada. Ver a recuperação dessas crianças é uma comemoração diária. Meu objetivo, hoje, é ver uma criança crescendo e se desenvolvendo sem os processos patológicos, porque muitas coisas são evitáveis através da puericultura. Me marca muito conseguir curar ou amenizar alguns processos das doenças”, afirma. 

O mais difícil 

A carga horária é um fator considerado difícil por ambas as residentes. Caroline afirma que, às vezes, não tem tempo para cuidar da vida pessoal, pois passa a maior parte do tempo em serviço. 

“[A carga horária] É bem puxada. Só temos dois finais de semana livres por mês, o resto é só trabalho, e não temos feriado. Muitas vezes, não se resume a 60 horas semanais, porque podem acontecer intercorrências, e não podemos abandonar um serviço no meio. Isso ocorre não por sermos residentes, mas por sermos médicos”, explica.

Ana Clara também tem essa sensação, afinal a carga horária intensa lhe dá a sensação de estar presa no tempo. Além disso, destaca que, apesar de gratificante, a Pediatria possui alguns problemas estruturais.

“É mais difícil principalmente nas cidades do interior. A criança fica sem assistência, sem um cirurgião pediátrico, sem um pediatra pra chamar de seu, pois nem todos os locais tem pediatra. Às vezes, acabam sendo atendidas por um Clínico Médico”, lamenta.

Expectativa de trabalho e emprego

O mercado de trabalho para o médico Pediatra traz a possibilidade de atuação em serviços de emergência, centros de terapia intensiva ou enfermaria de hospitais como plantonista. Também existe a possibilidade de atuar em consultório, mas geralmente as atividades estão concentradas em ambientes como ambulatórios, maternidades, transporte em ambulância e postos de saúde.

Áreas específicas da Pediatria exigem treinamento e estudos em serviços especializados, além da formação inicial. Apenas depois dessa subespecialização que o Pediatra pode atuar com medicina intensiva pediátrica, alergia e imunologia, hematologia, neonatologia, nutrologia, neurologia pediátrica, cardiologia, reumatologia pediátrica, Medicina do adolescente, endocrinologia pediátrica, entre outras. A média salarial do Pediatra é de R$ 6.444,90 em uma jornada semanal de 20 horas.

A Dra. Nathália da Costa Sousa entende bem a rotina do residente de Pediatria e compartilhou com a Sanar a sua experiência de mercado:

Conclusão sobre a rotina na residência de pediatria

A residência em Pediatria, como qualquer outra, possui pontos positivos e negativos. A carga horária é intensa e muitas vezes preenche todo o calendário do residente com rodízios, plantões e estudos. Além disso, algumas instituições apresentam problemas estruturais que dificultam o tratamento dos pacientes.

Mesmo assim, os pontos positivos são mais gratificantes e compensam qualquer dificuldade enfrentada, além de garantir um aprendizado único na vida do médico.

“Vale a pena fazer residência. Apesar de todo esforço, da carga horária, vale a pena se especializar em Pediatria, principalmente pelo agradecimento das crianças. Fora que é uma experiência rica em conhecimento. Hoje eu me sinto muito mais preparada para atender uma criança, em alguns atendimentos, do que me sentia quando terminei a faculdade”, revela Caroline.

Portanto, trata-se de uma área com muitos desafios, principalmente pela responsabilidade de cuidar da saúde das crianças. As residentes foram consensuais ao falar que a felicidade do paciente é uma das maiores conquistas do pediatra. Logo, para elas, o melhor da Pediatria está na felicidade de exercer uma área tão humanizada da Medicina.

“A gente tem de deixar nosso coração falar em todas as escolhas. Tem de haver amor no que faz. Venha [para a Pediatria] pelo amor e, especialmente, para lidar com as crianças. Tem de ter vocação, gostar do que faz, pois não se trata apenas de um emprego, mas de cuidar de um paciente, um paciente diferenciado”, finaliza Ana Clara.

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