Gastroenterologia

Hepatoesplenomegalia: como fazer diagnósticos diferenciais

Hepatoesplenomegalia: como fazer diagnósticos diferenciais

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Conheça as principais causas de hepatoesplenomegalia e saiba como realizar os diagnósticos diferenciais.  

Hepatoesplenomegalia é o aumento do fígado e do baço para além dos seus tamanhos normais. Esse aumento pode ser observado tanto no exame físico através da percussão e de manobras, bem como em exames de imagem, como Tomografia Computadorizada (TC) e Ultrassom (USG).  

O aumento de fígado ou do baço pode se dar de forma separada, os quais chamados de hepatomegalia e esplenomegalia, respectivamente. No entanto, nesse texto iremos tratar sobre as principais causas do aumento de tamanho concomitante desses órgãos e como fazer todos os diagnósticos.

Esse e muito mais conteúdos podem ser encontrados no Yellowbook da Sanar “Como Fazer Todos os Diagnósticos”.

O fígado

O fígado é um órgão que está localizado no quadrante superior direito do abdome, que vai do quinto espaço intercostal até o rebordo costal direito na linha hemiclavicular. Ele é considerado a maior víscera do corpo humano e é responsável por diversas funções:

  • Secreção da bile
  • Regulação do metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídeos
  • Armazenamento de substâncias, como o ferro, vitamina A, D e B12;
  • Degradação e excreção de hormônios, principalmente esteroides e os hormônios tireoidianos;
  • Transformação e excreção de drogas;
  • Produção da maioria dos fatores pró-coagulantes e dos inibidores da coagulação, como o fibrinogênio, protrombina, entre outros.

O baço

O baço por sua vez, está localizado na cavidade peritoneal, na porção posterior do quadrante superior esquerdo. Ele fica abaixo do diafragma e adjacente às costelas inferiores, estômago, flexura esplênica do cólon, rim esquerdo e cauda do pâncreas.

Este órgão é que tem uma importância imunológica grande. Além dessas, o baço desempenha funções filtrantes e hematopoiéticas. Algumas delas são:

  • Filtração sanguínea lenta que possibilita aos macrófagos da região a identificar bactérias ou outros microrganismos presentes, fazendo a fagocitose de células sanguíneas e de material particulado;
  • É um órgão linfoide secundário, que tem na sua polpa branca linfócitos (linfócitos B, linfócitos T e pasmócitos), os quais participam da resposta imune humoral;
  • Hematopoiese no desenvolvimento fetal e, no adulto, e hematopiese extramedular compensatório em situações de anemia crônica grave e em pacientes com doenças mieloproliferativas;
  • Sequestro de elementos figurados do sangue.

O tamanho e o peso de ambos os órgãos tem relação direta com a altura, peso e sexo de cada indivíduo. Apesar disso, é estabelecido que a média do tamanho do baço é de 10,9 cm de comprimento e de 12,3 a 14,5cm de limites superiores. Já o fígado possui uma extensão na linha hemiclavicular direita de 6 a 12cm e na linha média esternal média de 4 a 8cm.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre anatomia do fígado e do baço, acesse nossos conteúdos sobre o assunto: Resumo de Hepatoesplenomegalia: anatomia, exames e causas, Esplenomegalia, Hepatomegalia, Anatomia do Baço: definição, função e anatomia do Baço.

Análise clínica da Hepatoesplenomegalia

Todo diagnóstico na medicina começa com uma boa história clinica e um cuidadoso exame físico. Posteriormente, diante das suspeitas levantadas, é possível solicitar exames complementares para confirmar ou afastar alguma das causas possíveis.

O fígado e o baço são bastantes sensíveis à agentes tóxicos, infecções, medicamentos, neoplasias, álcool, bactérias e vírus. Esses agentes podem levar ao aumento de ambos os órgãos, que podem acontecer de forma isolada ou em conjunto.

O aumento do baço causa desconforto na região do quadrante superior esquerdo através de pressão no estômago (órgão que está adjacente à ele), que causa desconforto após a ingesta de alimentos. Pode acontecer ainda a síndrome do hiperesplenismo, que é caracterizada por anemia, leucopenia e trombocitopenia.

A dor e desconforto do lado direito do abdome pode estar relacionada ao aumento do fígado.

Anamnese

Durante a entrevista com o paciente, o mesmo pode referir alguns sintomas:  

  • Febre
  • Fadiga
  • Dor abdominal
  • Náuseas e vômitos
  • Inchaço no abdome
  • Coceira persistente
  • Icterícia, no qual o paciente se queixa de olhos e pele amareladas;
  • Urina e fezes podem estar com a coloração alteradas: mais escura e sem cor, respectivamente.

Exame Físico

No exame físico é importante começar avaliando as mucosas em busca de sinais de icterícia, palmas das mãos e sola dos pés, telangectasias, eritema palmar.

Posteriormente, devemos realizar a palpação e percussão do baço e do fígado, nos quais vamos observar o tamanho, textura e sensibilidade. Geralmente o baço e o fígado não são palpáveis, mas sendo também não significa que tem algum processo patológico associado.

Atenção!

Atenção à dica que tem no Yellowbook da Sanar “Como Fazer Todos os Diagnósticos”:

  • Nem todo fígado palpável é de tamanho aumentado, uma vez que o rebaixamento do diafragma por patologias pulmonares podem deslocar o fígado para baixo;
  • Nem toda hepatomegalia é palpável, visto que o exame físico depende muito da experiência do examinados;
  • Além disso, nem toda hepatimetria aumentada significa hepatomegalia, uma vez que derrame pleural à direita pode transformar o som claro pulmonar em maciço;
  • 3% da população tem baço palpável sem significar condição patológica;
  • 10 a 30% da população tem baço acessório ocupando o espaço de Traube;
  • Tumores no estômago e cólon, cistos pancreáticos e renais podem ocupar o quadrante superior esquerdo do abdome, provocando Traube ocupado.

O fígado

Comece pedindo ao paciente para ficar em decúbito dorsal e inicie pela hepatimetria. O examinador deve fazer a percussão na linha esternal média e na linha hemiclavicular esquerda. Se elas forem maiores ou menores que 4 a 8cm e 6 a 12, respectivamente, deve-se ligar o sinal de alerta.

Posteriormente deve-se realizar a palpação do fígado no rebordo costal direito. O examinador deve sentir a textura e formato da borda do órgão, caso ele seja palpável.

O Baço

Ainda com o paciente em decúbito dorsal, deve-se fazer a percussão do espaço de Traube, que deve ser timpânico. Caso tenha macicez presente, faça a palpação.

Exames complementares

Caso tenha suspeita de hepatoesplenomegalia, é possível solicitar ultrassonografia e uma TC. No geral, a USG já é suficiente para indicar o aumento dos órgãos.

Os exames laboratoriais podem ser solicitados posteriormente para ajudar a descobrir as causas da hepatoesplenomegalia.

Diagnósticos de hepatoesplenomegalia

Ao ser encontrada o aumento nos órgãos, é preciso organizar o raciocínio junto com as queixas do paciente. Para que fique mais didático e facilite as suspeitas diagnósticas, devemos dividir as suspeitas em dois grupos:

  • Crônica ou aguda: de acordo com o tempo de acometimento;
  • Febril ou afebril: presença de elevação de temperatura.

Uma hepatoesplenomegalia aguda é aquela que tem duração menor que 3 semanas. Caso o tempo seja maior que este, consideramos uma hepatoesplenomegalia crônica.

Conheça agora as principais causas desses grupos: 

Hepatomegalia Aguda

As principais causas que se deve pensar quando estamos diante de um caso de hepatomegalia aguda são:

Febril:

Afebril

  • Síndrome de Budd Chiari Aguda

Hepatomegalia Crônica

Febril:

Afebril:

Como fazer Todos os Diagnósticos

Realizar diagnósticos corretos e precisos é o objetivo de todos os médicos e estudantes de medicina. Para tanto, é preciso desenvolver o raciocínio clínico e conhecer os possíveis diagnósticos diferenciais. Pensando nisso, a Sanar preparou um Yellowbook que trás mais de 300 fichas clínicas de doenças e síndromes e mais de 90 fluxos de diagnósticos dos principais sinais e sintomas visto na rotina hospitalar e da atenção primária à saúde.

Esse livro ajuda e auxiliar a nortear o raciocínio durante a anamnese e nas investigações de casos. Adquira já o seu e não perca tempo de aprender a como fazer todos os diagnósticos

Sugestão de leitura complementar

Referências

  • BONA, R. Evaluation of splenomegaly and other splenic disorders in adults. UpToDate, 2022.
  • CURRY,  M. P.; BONDER, A. Overview of the evaluation of hepatomegaly in adults. UpToDate, 2022.
  • Nacionais, Rio de Janeiro, 2016. ABBAS, A.K.; KUMAR, V.; MITCHELL, R.N. Fundamentos de Patologia – Robbins & Cotran – 9ª ed., Elsevier/Medicina Nacionais, Rio de Janeiro, 2016.
  • QUEIROZ, C. Como fazer todos os diagnósticos: um guia para emergência e clínica médica. Sanar Yellowbook. Editora Sanar: Salvador, 2020.
  • SCHINONI, M. I. Fisiologia Hepática. Gazeta médica Bahia, 2006. Disponível em: . Acesso em: 08/11/2022.