Índice
A residência em Gastroenterologia envolve uma rotina bem puxada. Em primeiro lugar, é preciso fazer dois anos de Clínica Médica antes de especializar-se na área que lida com doenças do aparelho digestivo.
São 4.881 especialistas em Gastroenterologia no Brasil (1,3% de todas as especialidades). Da mesma forma, a Demografia Médica no Brasil 2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM) também indica que, naquele ano, 317 médicos eram residentes em Gastro, que possuía 491 vagas autorizadas. Por fim, a residência em Gastroenterologia é a primeira opção de 0,7% dos recém-formados em Medicina.
Para que você saiba como é a rotina da residência em Gastroenterologia, a Sanar Residência Médica conversou com Ana Júlia Cardoso, que terminou a residência no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), e com Débora Araújo, que finalizou a residência em 2019 no Hospital Geral Roberto Santos.
Tem muita coisa que você precisa mesmo saber antes de escolher a residência em Gastroenterologia. Por isso, saiba tudo sobre a especialidade e faça a sua escolha!
A escolha pela residência de Gastroenterologia
Ainda como estudante de Medicina na Escola Bahiana de Medicina, em Salvador, Ana Cardoso conta que escolheu Gastro por afinidade. “Em Medicina, o estudo é vasto e passa por todo o corpo humano. Mas desde aquele momento você ganha empatia pelas áreas nas quais rende mais. Em Gastro, tive essa empatia”, afirma.
“É uma especialidade bem vasta e que abraça todo o sistema gastrointestinal. São muitas doenças e órgãos, então a extensão da especialidade é grande pois tem interrelação com outros sistemas do organismo”, complementa.
Débora afirma que Gastro foi uma das primeiras opções que teve e, principalmente, que foi influenciada a escolher a especialidade. “Tive um professor que me inspirou muito, e acabei me identificando”, diz.
Como a residência é dividida
A residência em Gastroenterologia tem duração de dois anos e carga horária de 60 horas semanais. Além disso, é importante lembrar que possui como requisito residência em Clínica Médica.
Os dois anos da residência em Gastro têm a seguinte divisão:
- Primeiro ano (R3): formação hospitalar com atividades na enfermaria, com pacientes cirróticos descompensados, doença inflamatória intestinal, casos investigativos, preparo para colonoscopia e competências como domínio de história clínica, realização do exame físico, geral e específico, pedido de exames complementares, implementação de condutas diagnósticas e terapêuticas às afecções mais prevalentes na Gastroenterologia, entre outras;
- Segundo ano (R4): similar ao anterior quanto ambientes e cenários, mas com destaque ambulatorial e propedêutico, no qual o residente passa bastante tempo no setor de endoscopia e ambulatórios com doentes de maior complexidade. Espera-se conhecimento sobre anatomia, fisiologia e fisiopatologia do aparelho digestório no diagnóstico e tratamento das doenças, análise de biologia de tumores, conhecimentos de imunologia, nutrição e infecção em pacientes imunodeprimidos, domínio das principais doenças sistêmicas etc.
“No R3, temos atividades de enfermaria em pacientes internados e cobrimos o ano todo plantões noturnos de intercorrÊncia em enfermaria, além de admissão de pacientes, descompensação e acompanhamento da evolução clínica”, conta Ana. Além disso, a cada trimestre os residentes rodam em enfermaria e ambulatório.
“No HC, o ambulatório é setorizado. Por isso, passamos por ambulatório de pâncreas, estômago, esôfago etc. Vemos também endoscopias e aprendemos a fazer o procedimento”, acrescenta a especialista.
Já no último ano, “ficamos só em ambulatório e endoscopia. Além disso, atuamos na UTI especializada em transplante de fígado, que é uma realidade do Hospital das Clínicas”, continua Ana. O R4 ainda permite fazer estágio de um mês fora do Brasil. Foi o caso da médica, que foi para Barcelona, na Espanha.
Alinhando as principais expectativas
Ana Cardoso revela que, ainda como estudante de Medicina, passou um mês no Hospital das Clínicas fazendo estágio. Ela repetiu a dose quando era residente de Clínica Médica no Hospital Universitário Professor Edgard Santos. “Tive a visão do que seria a especialidade e a rotina da residência. Foi muito positivo e me ajudou tanto em relação a mudar de estado, quanto a prestar uma prova de residência que é concorrida”, conta.
Ela tinha a expectativa de aprender as diversas áreas de Gastro. “Gostei muito que o estudo é bem setorizado e achei didática a divisão do ensino. Em enfermaria, temos de tudo, com predomínio de pacientes doentes de fígado (hepatites e cirroses). Ou seja, o fato de ter vindo antes da residência me fez abrir a mente de uma forma que não conseguiria”.
O melhor da residência em Gastroenterologia
“Tem muitas opções para seguir dentro da mesma especialidade”, responde Débora Araújo sobre o melhor da residência em Gastroenterologia. Ela elenca áreas como endoscopia, consultório, doenças inflamatórias, fígado, esôfago, entre outras.
Para Ana, sua atuação recebe estímulos para desenvolver um lado mais acadêmico. “Meu serviço é altamente acadêmico. Estimulam pesquisa e apresentação de aulas. A Medicina é muito baseada em evidências e o HC permite desenvolvimento de ciência e de teste de tecnologia”, diz.
Da mesma forma, o maior acesso que a instituição dá para o público é outro diferencial. “Aqui, o paciente tem acesso a tratamento e medicação que outros locais podem não oferecer. Temos disponibilidade e tecnologia”, acrescenta.
O mais difícil
Débora conta que a carga horária puxada, os plantões noturnos e de fim de semana, além do fato de que a bolsa não permite dedicação exclusiva, são partes difíceis da residência em Gastro.
Ana complementa. “A carga horária é intensa, especialmente na enfermaria onde você dá muitos plantões. Cobrimos feriados também”. Além disso, “você sempre precisa estudar e existe ainda a sua rotina. Você tem que equilibrar isso com a saúde física e mental”, acrescenta.
Por outro lado, outra dificuldade é a necessidade de “trabalhar fora da residência durante a residência. É uma realidade, pois a bolsa acaba sendo insuficiente”, revela Ana. Por fim, ela conta que “na atividade com paciente internado, tudo que propomos depende do residente ir atrás. Ele precisa preparar o paciente, buscar medicação, cirurgia e muito mais. Existe um comprometimento que você fortalece com o paciente, e isso pode trazer cansaço”.
Expectativa de trabalho e emprego
O gastroenterologista tem rotina de atuação em ambulatório, acompanhamento de internados, realização de procedimentos como endoscopia (que demanda mais um ano de especialização, ou seja, o R5) e plantões. De forma geral, o profissional entra em grupos já estabelecidos em hospitais e, em seguida, forma clientela própria de forma progressiva. Atendimento em consultórios e hospitais são algumas possibilidades.
A remuneração está em torno de R$ 4.178,23 para jornadas de trabalho de 16 horas semanais, de acordo com dados oficiais selecionados pelo site Salario.com.br.
Veja mais sobre a especialidade neste vídeo do Professor Sanar Diego Brandão:
Ana Cardoso acredita que atuar em Gastro traz várias áreas de inserção, além de procedimentos. “Em mercado de trabalho, áreas como endoscopia e colonoscopia são atrativas, afinal você diversifica a sua rotina e pode ter melhor retorno financeiro. É possível se especializar ainda mais e, também, é possível atuar em doenças do estômago, intestino, fígado etc.”, afirma.
Ela conta ainda que a especialidade é muito procurada em termos de consultório, pois muitas pessoas têm problemas como refluxo e diarreia. Em nível hospitalar, Gastro também é uma especialidade procurada.
Ana especializou-se em Hepatologia. “As doenças do fígado me encantaram, e tive contato com transplante de fígado no HC. A possibilidade de curar doenças irreversíveis, como cirrose, por meio de transplante me encantou. Além disso, temos uma forte estrutura aqui. Antes, até pensava em me especializar em Endoscopia. Porém, vi que, se me especializasse em Hepatologia, estaria mais feliz. Escolhi bem e não me arrependo”.
Conclusão sobre a rotina da residência em Gastroenterologia
A residência em Gastroenterologia tem carga horária puxada e uma gama de doenças para o profissional lidar, o que pode trazer desafios para a rotina do residente. Entretanto, é fundamental lembrar que fazer residência médica traz diferenciais na carreira.
“A residência é uma fase e, além disso, temos ótimos preceptores, que nos abraçam como família e dão um bom suporte. Da mesma forma, a Medicina só cresce. São cada vez mais subespecialidades e a prática conta muito nisso”, diz Débora Araújo. “Gastroenterologia é uma área muito boa, com um bom leque de opções”.
Ana Cardoso entende que, ao se formar em Medicina, o médico pode se deparar com uma sensação de se sentir inseguro. “Por isso, a residência é necessária. Precisamos lapidar a pedra bruta que somos quando nos formamos. Em Gastro, por exemplo, conseguimos sistematizar estudos e aprendizados de doenças variadas. Com o tempo, vemos que você vai sair especialista de fato”, revela.
“Converse com pessoas que passaram pela residência, veja se consegue se projetar na especialidade. Ela me encanta pelas possibilidades mil que temos e pelo diálogo com outras áreas, pois existe muita plasticidade. além disso, pense também no seu perfil e no que você gosta em Medicina. Caminhe em direção à especialidade com a qual você tem mais afinidade. Por fim, não tive alguém próximo que me inspirasse, por isso busque pessoas que vivenciaram a dor e a delícia da residência em Gastroenterologia”, finaliza Ana Cardoso.

Posts relacionados
- Rotina do residente de Infectologia
- Rotina do residente de Neurologia
- Rotina da residência de Pediatria
- Rotina do residente de Ginecologia e obstetrícia
- Rotina do residente de Dermatologia
- Rotina do residente de Anestesiologia
- Rotina do residente de Cirurgia do Aparelho Digestivo
- Rotina do residente de Cirurgia Vascular
- Rotina do residente de Ortopedia e Traumatologia
- Rotina do residente de Cardiologia
- Rotina do residente de Nefrologia