Residência Médica

Rotina do residente de Reumatologia

Rotina do residente de Reumatologia

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A Reumatologia é uma especialidade complexa, que exige amplo conhecimento para diagnóstico e tratamento eficaz. Por isso, a rotina do residente em Reumatologia envolve uma gama de atividades e aprendizados diversos.

São 2.383 reumatologias no Brasil (1,15 por 100 mil habitantes). A especialidade é primeira opção de apenas 0,4% dos recém-formados em Medicina. 197 médicos estavam na residência em Reumatologia, que possuía 312 vagas autorizadas em 2018, de acordo com a Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina (CFM), do mesmo ano.

Quem vai contar para você como é a rotina do residente de Reumatologia são…

Janaina Baggio, R1 de reumatologia, no HC-USP

Carla Baleeiro, R2 de reumatologia, no HC-USP

Existem muitas coisas que você precisa saber para escolher bem a sua residência em Reumatologia. Então continue a leitura e veja todos os detalhes sobre essa especialidade!

A escolha da residência em Reumatologia

Janaína diz que sempre gostou de Clínica Médica e, das especialidades derivadas, se encantou pela Reumatologia por considerá-la completa e com alto grau de complexidade. 

“Dentro das especialidades clínicas, é a que envolve quase todas as especialidades porque o acometimento da doença é multissistêmico e necessita de conhecimento nas áreas pulmonar, cutânea, renal, oftalmológica, entre outras”, explica.

A escolha pelo Hospital das Clínicas ocorreu porque, segundo Janaína, a USP, além de ser uma instituição de referência, é uma das que mais oferecem vagas para a Reumatologia.  

“São poucos lugares do Brasil que, realmente, tem [programas de] Reumatologia. A USP oferece 12 vagas, então, vale a pena tentar fazer aqui. Além disso, o serviço é maravilhoso, completo desde a investigação, com laboratório e exame de imagem, até o próprio tratamento. É uma experiência única estar nesse serviço. Às vezes, a gente fala tem que tentar, porque não é impossível, apesar da alta concorrência”, afirma. 

A primeira experiência de Carla com a Reumatologia ocorreu em um projeto de pesquisa durante a graduação. Ela lembra que, tanto na Escola Bahia de Medicina e Saúde Pública quanto na residência de Clínica Médica, no Hospital Santo Antônio, teve contato com especialistas na área, e isso fez diferença na hora de escolher a especialidade.

“Eu me apaixonei pela Reumatologia. É uma especialidade completa, porque aborda todos os órgãos do sistema. Então temos contato com doenças raras, difíceis; e, para quem gosta de Clínica Médica, é uma grande paixão”, complementa. 

Da mesma forma que Janaína, Carla comenta que quis fazer residência em um grande centro de São Paulo, por ser uma instituição que se destaca na especialidade, que oferece uma infraestrutura adequada para o melhor aprendizado.

“Eu quis fazer em um lugar onde tivesse acesso a exames complementares e tratamento adequado para os pacientes, além de alto fluxo de atendimento de todas as doenças reumatológicas. É uma instituição onde temos fácil acesso a pesquisas e com possibilidades de iniciar um doutorado ao fim da residencia”, detalha.

Como a residência é dividida 

Com duração de dois anos (e pré-requisito de mais dois anos em Clínica Médica), a residência em Reumatologia tem carga horária de 60 horas semanais, sendo metade do tempo em atividades de ambulatório e a outra metade em locais de internação, interconsulta, medicina física e reabilitação, além de estágios em ortopedia, laboratório e reumatologia pediátrica.

A Comissão Nacional de Residência Médica estabelece, entre algumas das matrizes de competências:

  • R1: domínio das bases da anatomia, bioquímica, fisiologia, biomecânica e histologia do sistema músculo-esquelético, além de  imunologia, genética e biologia molecular implicadas na gênese das doenças autoimunes sistêmicas; elaboração de prontuário, prescrição de plano terapêutico e domínio de medidas de emergência e urgência reumatológica;
  • R2: domínio de indicação e interpretação de métodos diagnósticos de eletroneuromiografia, densitometria óssea e capilaroscopia; terapia com imunobiológicos; domínio de diagnóstico e tratamento de enfermidades como Febre reumática; Artrite reumatóide; Lúpus eritematoso sistêmico; Esclerose sistêmica, entre outras.

No HC-USP, residentes do R1 atendem todos os dias da semana em ambulatórios, com cada turno destinado a uma doença reumatológica. Além disso, rodam 4 meses em enfermaria, com plantões noturnos e passagem durante alguns finais de semana do mês.

“Também temos estágio do centro de infusão de imunobiológicos, e um período no qual passamos por diversas subespecialidades como pneumologia, ultrassonografia, capilaroscopia, entre outros”, conta Janaína. 

No R2, não há enfermaria. A diferença em relação ao R1 está na presença de interconsultas, que também duram 4 meses. 

“As interconsultas são em todo complexo hospitalar da USP, então respondemos no [Hospital] Emilio Ribas, Instituto de Cardiologia, Instituto de Ortopedia, Instituto de Psiquiatria, Instituto Central e Instituto do Câncer. Também tem um mês de diversos, em que temos Infiltração das Articulações e Partes Moles, e o Cedmac [Centro de Infusão de Medicações], que atende pacientes que precisam de medicação especiais biologicas”, acrescenta Carla. 

Alinhando as principais expectativas

Janaina revela que ficou bastante ansiosa antes de entrar na residência de Reumatologia, pois, além de ser a especialidade que amava, iria entrar na USP, um dos melhores serviços da América Latina. Em pouco tempo, ela se viu querendo conhecer melhor a estrutura do Hospital das Clínicas e, hoje, revela que ficou, positivamente, surpresa.

“Quando entrei, foi um choque de realidade, porque, onde fiz Clínica Médica, não havia tantos recursos de diagnósticos e tratamento. Aqui, você pode fazer qualquer exame e quase todos os tipos de tratamento. Então, foi um choque ver como o SUS funciona aqui dentro. Estou muito realizada, cada dia mais feliz, e é uma oportunidade muito única”, comenta. 

Carla conta que, quando passou, teve de enfrentar uma realidade com a qual não estava acostumada, pois teve de sair de Salvador e, consequentemente, se afastar de sua família. 

“Tinha receio de como iria me adaptar à nova rotina de estudo e atendimento em uma grande cidade. Felizmente, acabei indo para a residência com grandes colegas de Salvador, então, tinha o suporte de amigos, e isso tornou esse período de adaptação bem leve, pois eram pessoas de minha convivência diária no [Hospital] Santo Antônio. Apesar de todos os medos e receios, consegui me adaptar e deu tudo certo”. 

Sobre o Hospital das Clínicas da USP, ela concorda com Janaína. “A gente tem tudo lá, nada falta em termos de fluxo de paciente, tratamento e exames, então não tenho que me queixar do suporte recebido”, elogia. 

O melhor da residência em Reumatologia

Ambas as residentes demonstram satisfação e paixão pela Reumatologia. Janaína afirma que, entre outras coisas, o melhor de sua residência é o fluxo grande de pacientes, que permite maior contato com vários  tipos de doenças raras e graves e a preceptoria. 

“Além dos principais diferenciais que já falei do HC, estar perto de assistentes que são extremamente conceituados e referências nacionais e internacionais, poder aprender com eles é muito bom,”, afirma. 

Carla destaca como positivo o Cedmac, a possibilidade de participar de grandes pesquisas, com possibilidade de iniciar um doutorado após a residência, e, assim como Janaína, o alto fluxo de pacientes.

“O que tem de melhor é ter casos clínicos complexos, com amplo diagnóstico diferencial e com possibilidade de intercessão com outras especialidades como pneumologia, cardiologia, gastroenterologia, infectologia, entre outras. Então, nossa especialidade acaba tendo muita conexão com todas as subespecialidades”, completa. 

O mais difícil 

O mais difícil para Janaína e Carla é o mesmo: a distância da família. Como muitos colegas da residência, as duas tiveram de se mudar para São Paulo em busca do sonho de se tornar Reumatologistas e sentem falta do suporte familiar. 

“Você precisa se virar sozinha e dar conta de trabalhar, estruturar a própria casa onde está vivendo, fazer atividade física, enfim, manter a rotina além da residência. Também tem a questão do deslocamento, vir pra Salvador com certa regularidade, ver a família, ver o namorado, tudo isso sem deixar de estudar para a residência”, afirma Carla.

Janaína também acrescenta que a autocobrança em relação ao aprendizado faz parte de sua rotina. “Você tem impressão de que não conseguiu estudar o suficiente, porque a rotina do ambulatório é pesada. Então, às vezes, você chega em casa cansada, com vontade de estudar, mas não consegue. Muitas vezes, podemos ficar frustradas com isso”. 

Expectativa de trabalho e emprego

Ambulatórios e consultórios são as principais áreas de atuação para reumatologistas, além de laboratórios, na indústria farmacêutica e em pesquisas clínicas. Uma grande parte dos profissionais atua apenas nos atendimentos em consultórios. 

Ao mesmo tempo, existe déficit desses especialistas no sistema público, o que faz com que o mercado de trabalho para o reumatologista seja promissor. O reumatologista tem renda média bruta de R$ 6.710,91 para a jornada semanal de 22 horas, de acordo com o site Salário. 

Quem traz mais informações sobre a Reumatologia é a Profª. Aline Torricelli, da Sanar. Assista abaixo para conhecer mais sobre a especialidade Reumatologia:

Janaina diz acreditar que o mercado de trabalho ainda é bom, pois existem poucos reumatologistas e, como os casos são complexos, quem não é reumatologista fica com receio de tratar. 

“Isso ajuda para o futuro, pois o mercado não está saturado. Agora, com uso de imunobiológicos, está abrindo um campo bem grande como plantão em centros de infusão, onde temos a possibilidade de trabalhar como plantonistas, além da realização de procedimentos como ultrassom, capilaroscopia e infiltração”, destaca. 

Sobre o futuro profissional, a residente em reumatologia revela que pretende fazer um doutorado, mas ainda não decidiu em qual área específica. “Ainda tenho muito a aprender para decidir a área que eu quero. Ainda quero aprender a fazer ultrassonografia de partes moles, que é importante como procedimento”, ressalta. 

Carla diz que, após a residência, pretende ficar mais um ano em São Paulo, iniciar um doutorado e fazer a preceptoria de Reumatologia. 

“Tenho pretensão de voltar para Salvador em 2022 e trabalhar nas grandes clínicas de Reumatologia e abrir meu próprio consultório particular, além de me dedicar à parte acadêmica como professora universitária ou preceptora de clínica médica. O mercado de trabalho em Salvador ainda é amplo por termos poucos reumatologistas”.

Conclusão sobre a rotina do residente em Reumatologia 

Para se especializar em Reumatologia , a pessoa deve encarar uma rotina intensa de trabalho e estudo. Como toda residência médica, não é uma tarefa fácil, mas é uma excelente alternativa para quem se interessa por alguma área clínica e quer ter oportunidades no mercado de trabalho.

“Para quem gosta da parte investigativa, de doenças raras, a Reumatologia é uma especialidade linda, que abrange várias subespecialidades. Você vai se sentir um clínico bem completo, pois fazer residência médica  te dá segurança para atender o paciente, independente da especialidade”, estimula Janaína. 

Carla reforça o pensamento. Para ela, a reumatologia é uma especialidade apaixonante, principalmente para quem se identifica com raciocínio clinico e diagnostico diferencial.

“Você tem contato, no dia a dia, com todas as subespecialidades, além de  ter a possibilidade de atuar na área de ultrassonografia músculo esquelética, infiltrações e acometimento de partes moles, como bursite, tendinite, fibromialgia, dor miofascial, osteoartrite, reabilitação, entre outros”, destaca.

Para quem deseja fazer uma residência em um grande centro de referência, mas não se sente com capacidade para passar, Carla tem um recado. 

“Não desista, estude, pois acredito que todo mundo é capaz de passar onde quiser. Portanto, se dedique, pegue as provas das instituições que deseja, responda e pratique com regularidade, porque você acaba entendendo como é a prova da instituição onde você quer passar”, finaliza.

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