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Quem está na residência de Oncologia tem uma rotina de estudos intensa e muita atuação ambulatorial. Além disso, os profissionais que desejam fazer a especialidade devem se preparar para conhecer casos complexos relacionados ao tratamento clínico de tumores malignos sólidos em adultos. Ou seja, o oncologista vai lidar com todos os cânceres, exceto aqueles de origem hematológica como leucemias, mieloma múltiplo e linfomas.
A residência em Oncologia exige não apenas dois anos de Clínica Médica, como também é a única subespecialidade clínica que tem duração de 3 anos. É a primeira opção de 0,9% dos recém-formados em Medicina, de acordo com a Demografia Médica no Brasil 2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM). 823 médicos eram residentes de Oncologia no mesmo ano, que possuía 1.748 vagas. Por fim, o Brasil conta com 3.583 especialistas em Oncologia, segundo o mesmo estudo.
Para você saber tudo sobre a rotina da residência de Oncologia, a Sanar Residência Médica entrevistou a residente…
Camilla Rebouças, R2 pelo IBCC Oncologia
Saiba tudo o que você precisa para fazer a melhor escolha quando o assunto é residência de Oncologia. Por isso, continue a leitura e veja todos os detalhes para escolher bem a sua especialidade!
A escolha da residência médica em Oncologia Clínica
Quando entrou na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Camilla não pensava em fazer residência na área, mas a história mudou quando uma amiga a colocou em um estágio de pesquisas clínicas em Oncologia.
“Por conta da pesquisa, eu me aproximei muito da especialidade e vi que tinha uma afinidade para esse perfil de pacientes. Lidar com terminalidade, doença grave, pessoas frágeis, em sofrimento, e lidar também com a alegria da cura de uma doença super desafiadora”, afirma.
A escolha pelo IBCC Oncologia tem uma curiosidade. Antes de ir para a instituição, Camilla tinha passado em outro programa, em Salvador, mas não tinha gostado do treinamento.
“Achei que tinha pouco apoio de preceptores, poucas aulas e que era mais voltado para a Hematologia, que não era meu foco. Vim para a segunda fase do leilão do SUS SP e tive a possibilidade de vir para o IBCC. Antes de escolher, eu vim conhecer o serviço e conversar com os residentes. No fim, gostei da proposta e resolvi entrar”, conta.
Camilla destaca que, além da estrutura, o IBCC se destaca por oferecer a possibilidade de lidar com SUS e convênios. “Para Oncologia, são realidades bem diferentes e, na residência, é importante ter contato com os dois campos”.
Como a residência é dividida
Com três anos de duração e pré-requisito residência em Clínica Médica, a residência em Oncologia tem carga horária de 60 horas semanais.
O Programa de Residência Médica em Oncologia Clínica estabelecido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (que foi, por sua vez, aprovado pela Comissão Nacional de Residência Médica em setembro de 2018), traz entre sua Matriz de Competências as seguintes ações:
- R1: coletar história clínica, realizar exame físico, formular hipóteses diagnósticas, solicitar e interpretar exames complementares e traçar condutas às afecções mais prevalentes, julgar padrão de tratamento em afecções como câncer de mama, câncer de próstata, câncer colorretal, câncer de pulmão, câncer de colo de útero, câncer de cabeça e pescoço e câncer de estômago, dominar conceitos básicos de fisiopatologia do câncer e as etiologias do câncer: vírus, tabaco, obesidade e os mecanismos pelos quais estes agentes causam câncer, dominar princípios fundamentais do tratamento do câncer, entre outras;
- R2: dominar bases de biologia tumoral relacionando-a com a prática clínica, avaliar mutações em oncogenes, genes supressores de tumores, proteínas de reparo e co-receptores imunológicos, analisar mutações determinantes de sensibilidade e de resistências às drogas, compreender vias de sinalização celular e fundamentos e limitações das técnicas e dos testes moleculares, avaliar diferenças de imunidade celular e humoral e dominar conceitos de imunidade inata e adaptativa etc.;
- R3: estabelecer limites para tratamento oncológico considerando futilidade, prognóstico e valorizar aspectos psico-sociais, culturais e religiosos de pacientes e familiares, dominar tratamentos das neoplasias menos prevalentes e os princípios gerais de oncologia que permitem avaliar e estabelecer o melhor tratamento para tumores raros, dominar conceitos de validade analítica, validade clínica, utilidade clínica, dominar critérios ESCAT, avaliar a importância de biobancos e sua utilidade, entre outros.
Como toda residência, o R1, no IBCC, é o mais difícil, pois, basicamente, se concentra em enfermaria, vendo intercorrência clínica do paciente oncológico, emergências oncológicas e complicações do tratamento proposto.
As aulas focam em Oncologia Básica, Princípios de Quimioterapia e Emergência Oncológica.
“No segundo ano, temos um mês trabalhando em radioterapia, e as atividades são mais focadas em ambulatórios. Começamos a ter contato com pesquisa clínica, e as aulas já focam nos tumores específicos. também temos rodízios em ambulatórios no HC Santo André e Hospital Mário Covas”, explica Camilla.
Ao longo do R3, residentes continuam rodando tanto nos serviços de convênio quanto no SUS, além de terem estágio em pesquisa clínica e mais dois meses de estágio opcional.
Alinhando as principais expectativas
Camilla conta que já esperava uma residência desafiadora. Sabia que não seria fácil, pois, devido ao contato prévio com especialistas, estava ciente da densidade do conteúdo que teria de estudar.
“Oncologia é uma área que está em expansão. todo ano o protocolo de cada tipo de câncer muda. Então você precisa estudar e se atualizar sempre”.
A residente também conta que, apesar de saber que teria de lidar com a carga emocional, não esperava que esta fosse tão grande.
“Além de estar exausta de muito estudo e trabalho, você ainda tem de lidar com sofrimento do outro, quebra de expectativas, efeitos colaterais que prejudicam a qualidade de vida do paciente, muitas vezes, de forma permanente, essas coisas. Lidar com o luto e com famílias é meio que uma montanha russa, então você precisa guiar com firmeza e positividade durante uma fase que é muito difícil” .
O melhor da residência em Oncologia
Para Camilla, entre outras coisas, uma das melhores experiências da residência médica em Oncologia é o contato com o paciente e o consequente vínculo criado.
“Como você está passando uma fase muito difícil com ele, acaba criando um vínculo forte, de gratidão. Isso é muito intenso. Outro ponto positivo, para mim, que gosto de pesquisa clínica, é ter contato direto e frequente, quase rotineiro, com a pesquisa”.
O mais difícil
O mais difícil da residência médica em Oncologia, assim como em outras, é a carga de estudo. Segundo Camilla, este talvez seja um dos pontos mais difíceis de se lidar, mas ela ainda cita outra dificuldade.
“Desenvolver as habilidades de relacionamento interpessoal tanto com a equipe quanto com os pacientes. Oncologia exige sempre um tratamento multidisciplinar. Você tem de aprender a ouvir, discutir os casos e trabalhar em equipe, mesmo”.
Expectativa de trabalho e emprego
As consultas fazem parte da rotina do profissional que concluiu a residência de Oncologia, uma especialidade ambulatorial. Em geral, o oncologista não atua em plantões (exceto em setores de quimioterapia e intercorrências. A sua atuação pode ser complementada também por visitas a internados.
Como o tratamento do câncer demanda abordagem multidisciplinar, o oncologista tem a sua prática associada a outras especialidades, da Cirurgia Geral à Pediatria. Dessa forma, não é comum o trabalho desse profissional em consultório próprio sem a colaboração de colegas.
De acordo com pesquisa do site Salario.com.br, o profissional da área ganha em média R$ 6.314,07 para 22 horas semanais de jornada de trabalho. O valor pode variar de acordo com a região de atuação.
Como o câncer tem um alto número de casos, a Oncologia é um mercado com grande demanda. Além disso, o profissional é bem visto no meio médico, principalmente por ter interações com especialistas de outras áreas.
De acordo com Camilla, o mercado para Oncologia está crescendo, mas é bastante fechado, com grupos bem consolidados no Brasil. Por isso, ela enfatiza a importância de escolher um serviço pensando na possibilidade de emprego.
“Você pode trabalhar em ambulatório, pesquisa e indústria farmacêutica: são basicamente os três campos da Oncologia”, afirma.
A residente diz que ainda não decidiu sobre uma possível subespecialização, mas sinaliza que há uma diferença entre profissionais recém-especializados e os que já estão há anos no mercado.
“Na Oncologia, os profissionais tendem a se especializar em um tumor, mas, no início da carreira, começamos, geralmente, trabalhando com todos os tumores, a não ser que faça um fellow ou uma subespecialização”.
Conclusão sobre a rotina da residência em Oncologia
Apesar da rotina intensa e da alta demanda de trabalho e estudo, a residência em Oncologia reserva momentos marcantes na vida de qualquer residente.
O contato com os pacientes é um dos aspectos mais importantes da especialidade, pois, ao mesmo tempo que gera uma relação de gratidão, exige do profissional inteligência e equilíbrio emocional.
“Quem faz oncologia gosta de lidar com pessoas, de ouvir histórias e tem de estar disposto a passar por desafios muito grandes de mãos dadas com o paciente. Isso envolve muito estudo e muito trabalho, mas é uma especialidade que vale muito a pena no sentido de gratidão”, conclui Camilla.
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